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Durante anos, depois dos massacres de Xangai e do esmagamento da Comuna de Cantão, em 1927, o Partido Comunista Chinês insistiu em comemorar nas grandes cidades o 1º de Maio. A cada ano, em cada comemoração, novos massacres e a repressão se encarniçava contra os trabalhadores urbanos. O Partido, abandonando a “estética do sacrifício”, resolveu não comemorar mais a data. Os ganhos políticos e ideológicos eram, de longe, sobrepujados pelas perdas em militantes, organizações e relações políticas.

Este é um exemplo histórico extremo e a situação das comemorações brasileiras do 1º de Maio não é tão dramática.

No entanto, passamos a experimentar – sem repressão e com festas – algumas das desvantagens que os comunistas chineses tiveram. As festas já não bastam, o modelo se esgotou, especialmente depois do que aconteceu no fim de semana.

Nas comemorações do 1º de Maio o movimento sindical mostrou-se pouco mobilizador e dividido em linhas políticas mutuamente agressivas. Exemplo eloquente foi o das comemorações na cidade de São Paulo, com dois grandes eventos polarizados.

A pauta unitária foi, de maneiras diferentes, afirmada em cada uma delas, uma pauta de resistência e reivindicações, mas a divisão falou mais alto.

Até mesmo os acenos tardios à pauta que a presidente fez no evento organizado por seus partidários soou de uma forma insatisfatória e oportunista no outro, que valorizava lideranças políticas menores, sujeitas à vaia.

Faltou conversa prévia, de todos com todos, impossibilitada pelo clima de antagonismo.

À luta contra a recessão e pela retomada do desenvolvimento, que é longa, soma-se agora a necessária luta pela reunificação do movimento sindical, com peripécias que vão testar a sagacidade e o empenho dos militantes e dos dirigentes.

O grande desafio, sobre o qual a experiência recente do movimento sindical argentino pode nos ensinar muito, é o de reconstruir a unidade, reforçando a pauta unitária sem cair e se enredar nas manobras políticas de que o período será fértil; aqui também, no nevoeiro, o velho timoneiro deve levar o barco devagar.  

 

 

João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical da CNTU e FNE.