Imprimir

Tenho afirmado que qualquer negociação séria no Congresso Nacional sobre as reformas previdenciária e trabalhista e sobre a terceirização somente produzirá resultados menos negativos se o conjunto dos trabalhadores, mobilizados pelas direções sindicais unidas, der uma tal demonstração de força que a palavra de ordem “nenhum direito a menos” se escreva com letras escarlates no imaginário nacional, portanto, também no imaginário dos parlamentares.

Além das lições históricas e da corriqueira prática sindical sobre a dialética existente entre mobilização e negociação, a afirmação acima se baseia na atual correlação de forças e na dinâmica ideológica vigentes no Congresso Nacional.

O governo Temer tem tido forte maioria congressual nas duas casas desde o impedimento da presidente Dilma. O chicote ideológico, brandido pelo mercado e pelos fazedores de opinião, empurra as duas casas na trilha das reformas duras, mesmo que, aqui e acolá, alguns deputados e senadores da base governista percebam o grau exacerbado das maldades pretendidas.

As recentes eleições das mesas da Câmara e do Senado comprovaram duas coisas: a hegemonia inconteste da orientação neoliberal (que na Câmara levou até a uma violação regimental de peso) e o esgarçamento das orientações partidárias em detrimento dos apetites grupistas e individuais dos parlamentares (quase todos os cargos importantes das respectivas mesas diretoras, exceto as presidências, foram eleitos contra as direções partidárias). O baixo clero e os baixos instintos se assanham, como foi comprovado no grotesco episódio da sabatina na boate-chalana senatorial.

Neste quadro e neste clima cresce a necessidade do recado forte das ruas para que os ouvidos atarantados e moucos se desentupam um pouco.

Exatamente por isso, o movimento sindical deve dar prioridade agora às mobilizações de sua base, compatibilizando as agendas que devem se somar, o que reforçará o peso unitário do “nenhum direito a menos” e o peso das direções nas negociações congressuais futuras.

João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical. Imagem: Sindect-RJ