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Cresce Brasil

sala de aula ou escola sala de aula vazia com mesas cadeira de madeira de ferro para estudar aulas no ensino medio 4236 1598Antes da pandemia de Covid-19, o Brasil era avaliado, seguidamente, como detentor de uma educação muito ruim, fraca, de baixo nível, tendo seus estudantes sempre classificados muito abaixo da pontuação dos estudantes de países desenvolvidos quando participando de avaliações comparadas internacionais como a do Pisa (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes) administrado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). É fácil, então, imaginar como será a educação no Brasil após a pandemia de Covid-19 se alterações profundas não forem implementadas.

Não seria exagero afirmar que pelo menos nos últimos dez anos o nível da educação no Brasil não melhorou e que desde sempre a educação no Brasil não acompanha a qualidade da educação dos países mais desenvolvidos do mundo. O Brasil vem ocupando, ano após ano, as primeiras posições no ranking dos países com pior nível mundial de aprendizado de suas crianças; quadro este que mantém o Brasil nas primeiras posições como uma das Nações mais ignorante do mundo. 

Nem se imaginavam problemas decorrentes da pandemia de Covid-19, e o Brasil já ocupava, também, as primeiras posições entre os países com o maior número de analfabetos do mundo (sejam eles analfabetos totais ou funcionais) e possuía mais da metade da sua população adulta, pessoas com 25 anos ou mais, sem ter completado o ensino médio. Em pleno século XXI, existiam enormes contingentes de brasileiros sem instrução formal alguma e uma parcela muito pequena da população teria terminado o ensino superior. Sem contar o absurdo de existirem milhões de brasileiros que, efetivamente, sequer conseguem escrever seus próprios nomes.  

Voltando ao Pisa, o mais importante termômetro sobre a qualidade da educação no mundo, cabe salientar que o Brasil participou de todas as edições até a última realizada em 2018, porém, sempre disputou as últimas posições parecendo não entender o principal objetivo daquele programa internacional de avaliação da educação.

O Pisa é uma avaliação comparada de âmbito internacional que é aplicada a estudantes na faixa dos 15 anos que tenham concluído a escolaridade básica obrigatória definida segundo critérios da OCDE.

O objetivo do Pisa é aferir o conhecimento e a habilidade dos estudantes para produzir indicadores que possibilitem avaliar a qualidade da educação no mundo a fim de se estabelecer continuamente necessárias políticas transformadoras de melhoria constante do ensino básico dos países participantes.

Sendo aplicado desde 2000, a cada três anos, o Pisa avalia sempre, em suas edições, três dimensões ou domínios; quais sejam: matemática, ciências e leitura. Todavia, prioriza um destes domínios a cada edição. Em 2000, o foco foi em leitura; em 2003, foi a vez da matemática; sendo que em 2006 foi dado ênfase em ciências. A partir de 2009, o ciclo tem seu início novamente enfatizando o domínio da leitura. Em 2012 e em 2015 foram priorizadas, respectivamente, matemática e ciências; concluindo o ciclo uma vez mais.

Leitura foi o domínio principal avaliado no Pisa de 2018. Os estudantes tiveram, então, que responder a um maior número de questões no domínio da leitura. Cabe ressaltar que o Pisa 2018 avaliou, ainda, os chamados domínios inovadores tais como letramento financeiro e competência global.

A performance dos brasileiros no Pisa 2018 foi péssima como sempre e mais de dois terços dos estudantes ficam em todas as provas abaixo dos níveis de proficiência considerado básico pela OCDE. 

A classificação geral do Pisa 2018 foi realizada por ordem decrescente de pontuação média obtida a partir do domínio em leitura (foco do Pisa na edição 2018) seguido do desempenho dos alunos em matemática e ciências, respectivamente.

O Brasil atingiu a 57ª posição na classificação geral, obtendo o 57º lugar em leitura, o 70º lugar em matemática e o 64º lugar em ciências. O Pisa 2018 foi aplicado em um único dia sendo as provas realizadas em computadores e tendo duas horas de duração. Participaram do Pisa 2018 alunos de 79 países.

Cerca de 50% dos estudantes brasileiros ficaram abaixo do nível 2 em leitura, obtendo apenas 413 pontos; enquanto o primeiro lugar atingiu 555 pontos e a média da OCD foi 487 de pontos.

Abaixo do nível 2 em leitura, foram estabelecidos os níveis 1a, 1b, 1c e abaixo do nível 1c. Os estudantes abaixo do nível 2 em leitura são aqueles que têm grandes dificuldades quando devem tratar textos que não lhes sejam familiares ou que apresentem extensão e complexidade moderados. Apenas no nível 2 os estudantes iniciam a demonstrar efetivamente as habilidades de leitura tanto para adquirir conhecimentos quanto para resolver problemas de natureza prática. 

Na OCDE, avalia-se que o nível mínimo de proficiência de um jovem estudante no contexto da avaliação e do atual estágio de desenvolvimento do mundo seja o nível 2. Mas apenas 24,5 dos estudantes brasileiros atingiram o nível 2 em leitura.

De forma geral, os estudantes brasileiros conseguem, quando muito, entender o significado literal de frases mais simples ou de passagens curtas e objetivas. Em muitas das vezes os estudantes abaixo do nível 2 apresentam grandes dificuldades de interpretação de textos mais longos e não conseguem com facilidade realizar conexões simples entre informações adjacentes à pergunta ou ao texto. 

Abaixo do nível 2, os estudantes apresentam dificuldades para procurar e localizar uma informação destacada e explicitamente colocada em uma frase, ou em um texto breve ou em uma lista simples. Quando não existem indicações explícitas nos textos os estudantes dos níveis abaixo do 2 apresentam muitas dúvidas e mesmo com a repetição de informações têm dificuldades de interpretação. 

Poucos estudantes brasileiros, 25,6%, se classificaram nos níveis acima de 2, sendo: 16,3% no nível 3; 7,4% no nível 4; 1,7% no nível 5 e apenas 0,2% no nível 6. O nível 6 é o de maior proficiência. 

Embora a performance dos estudantes brasileiros tenha sido fraca em leitura, é em matemática que o Brasil mostra toda sua fragilidade em educação básica, pois os estudantes brasileiros obtiveram pífios 384 pontos enquanto a média mundial da OCDE foi de 489 pontos; ficando muito abaixo dos 591 pontos do primeiro lugar.

Desde a primeira edição do Pisa (em 2000) o Brasil sempre teve mais de dois terços de seus estudantes com resultados abaixo do nível 2 em matemática.

Absurdamente, a maioria dos estudantes brasileiros (68,1%) ficou ou no nível 1 (27,1%) ou abaixo do nível 1 (41,0%), significando dizer que são analfabetos em matemática, pois mal conseguem realizar ações óbvias que decorram diretamente dos estímulos dados; apresentando dificuldades para responder questões de matemática que envolvem contextos familiares ou que possuam todas as informações relevantes presentes na formulação dos problemas ou que estejam claramente definidas. Mesmo com instruções diretas, em situações explícitas, os brasileiros demonstraram dificuldades para identificar informações e executar procedimentos rotineiros.  

Os demais 31,9% dos brasileiros avaliados se distribuíram nos níveis 2 (18,2%), 3 (9,3%), 4 (3,5%), 5 (0,8%) e 6 (0,1%). Uma lástima, para não dizer vergonhoso. Mas, estes 39,1% acima do nível 1 foi o melhor resultado do Brasil em matemática na série histórica do Pisa. 

A despeito dos péssimos resultados em leitura e matemática nem mesmo em ciências o Brasil conseguiu sair das últimas posições no Pisa 2018, pois obteve apenas 404 pontos. O primeiro lugar atingiu 590 pontos e a média mundial da OCDE foi de 489 pontos. Mais da metade dos estudantes brasileiros (55,3%) ficaram abaixo do nível 2 de proficiência em ciências, ou seja: 31,4% no nível 1a; 19,9% no nível 1b e 4,0% abaixo do nível 1b.  

Nenhum estudante brasileiro conseguiu atingir o nível 6 em ciências. O Brasil teve apenas 0,8% de seus estudantes classificados no nível 5. Nos níveis 4 e 3 o Brasil atingiu 4,6% e 13,9%, respectivamente. No nível 2 foram classificados 25,3% dos estudantes brasileiros. Assim, o Brasil somou 94,5% dos seus estudantes abaixo dos três maiores níveis da avaliação. 

Diante deste caos em ciências os estudantes brasileiros continuam demonstrando que são capazes de aplicar o pouco que sabem apenas a limitadas situações de seu cotidiano e não conseguem apresentar explicações científicas mesmo que estejam explícitas nas evidências. 

Conforme observou a OCDE, em ciências, poucos são os estudantes brasileiros que ao menos “conseguem recorrer a conhecimento cotidiano e o conhecimento procedimental básico para identificar uma explicação científica adequada, interpretar dados e identificar a questão abordada em um projeto experimental simples”. 

Mesmo com algum apoio a maioria dos estudantes brasileiros têm dificuldades para realizar investigações científicas estruturadas com mais de uma variável e apresentam fortes deficiências para a identificação de padrões simples do cotidiano.

Assim sendo, nas três dimensões do Pisa 2018, leitura, matemática e ciências, ficou evidenciado que a qualidade da educação no Brasil é péssima e de forma inaceitável continua muito abaixo do nível médio dos parâmetros da OCDE. 

Não restam dúvidas, porém, que a situação vai piorar devido aos impedimentos gerados pela Covid-19 que praticamente pôs fim ao ano letivo de 2020. 

Se a educação no Brasil já era péssima sem os efeitos destruidores da pandemia de Covid-19, não é difícil imaginar como ficará no futuro próximo. Todavia, a mesma pandemia que destruiu e continuará a destruir poderia ser tomada como marco zero para mitigar, efetivamente, o desastre que vem sendo a educação no Brasil, pois não faltam bons exemplos no mundo a serem replicados para se atingir uma educação de qualidade. 

Contudo, como, efetivamente, nada foi realizado no sentido de se efetivar o sugerido no parágrafo precedente, espera-se um desastre ainda maior para a educação no Brasil.

Mas, foram definidas medidas para o retorno às aulas presenciais no pós pandemia tais como: manter menos estudantes por sala de aula, exclusão total de trabalhos em grupos, possibilidade de se continuar as atividades online mesclando com as atividades presenciais, marcação física de lugares para manter o distanciamento entre os estudantes, obrigatoriedade de cada estudante trazer sua garrafinha de água de casa, uso obrigatório de máscara durante todo tempo tanto pelos professores quanto pelos estudantes, dentre outras regras inscritas em uma cartilha nacional. 

É óbvio que estas medidas são pouco questionáveis, certamente, enquanto ações preventivas e sanitárias necessárias. Todavia, são medidas sem relevância alguma para a melhoria da qualidade da educação no Brasil.

Discute-se, acaloradamente, entretanto, situações esdrúxulas como se o tempo usado em atividades online poderá ou não ser contado e sobre a necessidade de se concluir ou não o ano letivo antes do término de 2020 como se tais questões menores impactassem-se na melhoria da qualidade da educação no futuro. Continua-se a pensar, equivocamente, na ilusão que os estudantes serão prejudicados apenas porque não tiveram o número x mágico de aulas previstos definido lá em algum contexto que já deixou de existir há muito tempo.

Discussões como as precedentes, estéreis, atreladas a uma história passada, somente contribuirão para manter a educação do Brasil no eterno atraso e serão responsáveis para que o Brasil deixe, definitivamente, de lutar pelas últimas posições em avaliações comparadas como as do Pisa, pois já entrará nestas disputas em último lugar.

Deve-se aceitar (ou entender) que a tal perda do ano letivo já aconteceu e não haverá o que se possa fazer para recuperá-lo ainda em 2020 em termos de carga horária ou mesmo quanto aos conteúdos perdidos. Além do mais o ano letivo de 2020 não pode ser reiniciado a menos que uma vacina esteja disponível. Será um massacre anunciado. Muitos jovens vão morrer e por nada. Pois, voltar a um sistema falido como o atual e com uma pandemia que sinaliza a ocorrência de uma possível segunda onda é inadmissível.

Não se percebe que a definição de diretrizes para a educação do Brasil pós pandemia de Covid-19 devem ir muito além das precauções sanitárias e necessitam estar centradas no conhecimento, ou melhor, nas formas excelentes de aquisição de conhecimento para produzir profissionais que possam contribuir para o progresso e o desenvolvimento da Nação em um mundo 4.0 e disruptivo. Insiste-se nesta irrelevância de se cumprir cargas horárias presenciais perdidas em um mundo onde as tecnologias e as ciências irmanam-se para produzir conhecimento para a melhoria da vida das pessoas para além do estritamente físico, pois há um híbrido entre o físico e remoto, onde o conhecimento se avoluma da noite para o dia em mundos cibernéticos paralelos ao elementar mundo físico de outrora.

Dever-se-ia aproveitar o tempo que a pandemia está a oferecer para se pensar uma nova educação no Brasil e deixar de lado as sempre discussões vazias e centradas em realidades não mais existentes que se avolumam as quais apenas contribuem para manter a péssima educação no Brasil. 

A volta às aulas inda em 2020 não vai mudar a educação no Brasil e nossos jovens, além de continuarem sendo roubados quanto a ter um futuro melhor, poderão perder suas vidas ou de seus familiares, diretamente pelo novo coronavírus gerador da Covid-19 ou indiretamente pelas inúmeras mazelas que essa peste da Covid-19 está gerando, como a fome, outras doenças, sérios distúrbios mentais, dentre outras. 

A educação no Brasil não pode continuar sendo refém das ultrapassadas salas de aula, dos ineficientes quadros de giz e das mágicas cargas horárias. Qualidade da educação de um país deve ser política de estado centrada na inovação e na conjunção entre as Ciências e as Tecnologias para a geração de conhecimento útil e determinante para a melhoria de vida das pessoas. 

No mundo 4.0 (na Quarta Revolução Industrial), na era das TIC (Tecnologias da Informação e da Comunicação), no universo da digitalização (da transformação do analógico em digital), em meio aos sistemas cyber-físicos (sistemas compostos por elementos computacionais colaborativos visando o controle de entidades físicas) e desenvolvendo-se no âmbito da cooperação (e não mais pela insipiente competição) não existe mais como considerar esta história de ano letivo ou muito menos de ano letivo perdido. 

É exigido acompanhar a evolução, o progresso e o desenvolvimento para garantir uma educação de qualidade e um futuro melhor para os nossos jovens estudantes. Muito embora sequer tenha existido uma educação 3.0 no Brasil, é urgente dar o salto para uma educação 4.0 em nossa nação.

Carlos Magno Corrêa Dias é professor, conselheiro efetivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI), líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC), personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep). 

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