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A convergência entre poder público, pesquisa científica e a defesa do meio ambiente está possibilitando ao município de Holambra (SP), estância turística conhecida pela produção de flores, tornar-se a primeira cidade brasileira a ter a área rural com 100% de saneamento básico em 2020. A ação é resultado de cooperação técnica iniciada em janeiro último entre a Prefeitura local e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para implantação de tecnologias de tratamento de dejetos. A parceria foi motivada a partir de repactuação de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), em setembro de 2014, entre a administração municipal e o Ministério Público do Estado de São Paulo, para solucionar multa de mais de R$ 4 milhões em razão do não cumprimento de decisão judicial para regularizar o tratamento de esgoto e de água na área urbana. Nesta entrevista, o engenheiro civil Carlos Renato Marmo, da Embrapa Instrumentação de São Carlos, explica os procedimentos agronômicos aplicados.

Como foi possível tal ação?

O Ministério Público de São Paulo resolveu converter a multa em ações, como uma forma de proteger os mananciais da região e garantir qualidade de vida à população local. Para tanto, foram definidas algumas metas à administração municipal, como a de realizar um amplo diagnóstico da zona rural, desde o número de famílias até a situação de cada uma delas. Ficou acertado que até o final deste ano deve-se ter um projeto básico de referência para que até 2020 sejam implantadas as ações. 

Qual o encaminhamento da Embrapa nesse caso?

A solução do saneamento para a área rural de Holambra vai englobar várias ações. A Embrapa, desde 2001, desenvolve tecnologias com essa finalidade. O nosso centro de pesquisa de São Carlos (SP) é de instrumentação agrícola, e dentro das nossas linhas de pesquisa uma delas é a de manejo da água e dos resíduos da agricultura.

A falta de saneamento rural em Holambra é uma questão isolada?

Não. Quase 80% das residências rurais do País lançam os esgotos em buracos, valas e fossas negras. Isso acarreta poluição do solo, contaminação do lençol freático e causa doenças nessa população, como diarreias, evasão escolar, menor capacidade laboral etc.. Por isso, desenvolvemos três tecnologias: fossa séptica biodigestora, que trata a água negra (do vaso sanitário); jardim filtrante, que trata a água cinza, que é toda a água de uma casa tirando a do sanitário; e o clorador Embrapa, um dispositivo simples que é colocado entre o poço e o reservatório de água.

Como se dá a cooperação técnica com o município paulista?

Importante explicar que tal parceria só foi possível graças ao empenho do promotor Rodrigo Sanches Garcia (do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente – Gaema, Núcleo Piracicaba, Capivari e Jundiaí). Foram selecionadas três propriedades, inicialmente, que permitiram implantar essas técnicas. Ao longo dos próximos seis meses, vamos acompanhar a receptividade e o manejo das tecnologias, capacitando técnicos, extensionistas e produtores rurais e fazendo ensaios físicos e químicos. A nossa parceria será de quatro anos. A ideia é o projeto ser estendido às 380 propriedades rurais do município.

Como esses dispositivos ajudam o saneamento e a agricultura?

O reúso do esgoto tratado na agricultura permite gerar um efluente com características próprias para uso na produção agrícola, como biofertilizante. Essa intervenção agronômica é uma tendência moderna utilizada em vários países e ecologicamente correta, porque você reaproveita a água e esses elementos químicos que, para as plantas, são uma espécie de vitamina. O esgoto tratado é um excelente fertilizante agrícola, que contém nitrogênio, fósforo, potássio, carbono e água. Jogando de qualquer forma, desperdiçamos esses elementos e poluímos.

A partir disso, o que será feito pela Prefeitura local?

Ela vai elaborar um termo de referência, que é o projeto básico, até o final de 2016, e já no início do próximo ano, o compromisso da administração municipal é transformar essas iniciativas em política pública e buscar financiamento para implantar o sistema em todas as propriedades de forma permanente, adequando cada uma das tecnologias da Embrapa ao tipo de propriedade rural.

Funcionamento

Fossa séptica biodigestora

Trata o esgoto do vaso sanitário de forma eficiente; o efluente do sistema, rico em nitrogênio e outros nutrientes, pode ser utilizado no solo como fertilizante. A tubulação do vaso sanitário é desviada para a fossa séptica biodigestora, em que o esgoto doméstico, com o auxílio de um pouco de esterco bovino fresco, é tratado e transformado em adubo orgânico pelo processo de biodigestão anaeróbia.

Jardim filtrante

É uma alternativa para dar destino adequado ao esgoto proveniente de pias, tanques e chuveiros, ricos em sabões, detergentes, restos de alimentos e gorduras, a chamada “água cinza”. A escassez de recursos hídricos demonstra a importância da reutilização dessa água, que possui diversas aplicações: irrigação de lavouras, lavagem de pisos e janelas, uso no vaso sanitário, entre outras.

Clorador

O equipamento pode ser montado pelo próprio usuário e a um custo muito baixo, por menos de R$ 50,00. Basta adquirir dois registros, uma torneira, tubulação e cloro granulado 60%. Na tubulação que recolhe a água da mina, é anexada uma espécie de funil por onde é colocado o cloro, em contato direto com a água. Depois segue para o reservatório. Em uma hora, a água estará isenta de germes e pronta para ser consumida.

Rosângela Ribeiro Gil

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