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Desde o início da década de 1960, quando começou a se desenhar a constelação de satélites em volta da terra que forma o Sistema Global de Posicionamento, GPS na sigla em inglês para Global Positioning System, muito se evoluiu nesse campo. Criado pelos Estados Unidos com objetivo militar, para que tropas pudessem se deslocar com mais precisão em áreas remotas, desde os anos 1980 o GPS vem sendo utilizado pela população em geral.

Nessa época, o sinal ainda era muito impreciso, principalmente para uso civil. Isso porque o governo estadunidense decidiu, estrategicamente, que o sistema não militar recebesse um sinal com margem de erro maior. Ele foi declarado funcional (com capacidade plena) somente em 1995. Em 2000, finalmente liberou-se o sinal militar para uso civil.

Em 2013, os Estados Unidos anunciaram uma terceira geração de equipamentos que substituirá os atuais e deverá se igualar ao nível tecnológico dos japoneses, com seu Quasi-Zenith Satellite System (QZSS). Esse depende do GPS para funcionar, mas pretende ter precisão maior: até 2020, a margem de erro que hoje é de dez metros deve cair para dez centímetros.
Além do Japão, a Rússia também dispõe de sistema próprio, o Glonass, que funciona com 24 satélites. A União Europeia tem o Galileo, atualmente com 18 satélites em órbita, do total de 30 previstos. O dos chineses é o Compass ou Beidou-2, com 20 em funcionamento, dos 35 totais.
Sem um sistema próprio, o Brasil utiliza o GPS dos Estados Unidos. Tal situação, embora não gere custos ao País, já que os sinais captados são gratuitos, preocupa a comunidade científica nacional. “Esse tipo de instrumento depende da capacidade do país de dominar a tecnologia de satélite. É um paradoxo para nós, porque o Brasil, além de ser continental, é muito bem posicionado geograficamente no planeta para o lançamento de satélites. E é um absurdo que não tenhamos nosso próprio sistema”, lamenta Marcelo Zuffo, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e coordenador do Conselho Assessor de Comunicação e Telecomunicações do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp).
O professor José Augusto Sapienza Ramos, coordenador do Núcleo de Geo­tecnologias, do Sistema LabGis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta ainda outro problema nessa situação de dependência tecnológica: já que o sinal tem dono, pode ficar indisponível, inviabilizando inúmeras atividades econômicas, científicas e cotidianas. “Tecnicamente é possível desligar o sinal civil do GPS, até por isso outras nações criaram seus sistemas. E eles (EUA) possuem um sinal militar com criptografia ao qual o grande público não tem acesso”, alerta. Na sua ótica, algo assim poderia se dar em situações extremas, como guerras.
A hipótese, contudo, é descartada pelo diretor da Associação Brasileira das Empresas de Rastreamento de Veículos, Eliézer Sousa, também integrante do conselho assessor da entidade paulista. “Eles próprios (os Estados Unidos) são muito dependentes da ferramenta. Na prática, não vejo como isso pode ocorrer”, argumenta.

Funcionamento
Os satélites que compõem sistemas globais descrevem órbitas ao redor do planeta a uma distância de 20 mil quilômetros, em média, e dão a volta completa a cada 12 horas. Seus equipamentos transmitem, continuamente, sinais digitais de rádio para receptores na Terra, com informações de sua localização e tempo no espaço. Os navegadores utilizados em smartphones são um tipo de receptor. Mas há instrumentos mais potentes em uso militar e comercial, como na construção civil e agronegócio para automação de máquinas, por exemplo. Quanto mais aberta a área, melhor o sinal. Se houver obstáculos, como prédios e túneis, há maior interferência, portanto, menos qualidade.
O GPS possui 28 satélites espalhados de modo coordenado, formando redes locais, de maneira que se tenha quatro satélites próximos o tempo todo e em qualquer posição do planeta. À junção dos dados obtidos a partir desses quatro satélites dá-se o nome de trilateração. “São três inicialmente. Mas é preciso um quarto para obter o que chamamos de avaliação do erro. Ou seja, você sabe o posicionamento e consegue aferir o erro. Quanto mais satélites estiverem em posicionamento, melhor a qualidade dos dados. Mas, na prática, você trabalha com os quatro que te dão o melhor posicionamento”, revela Sapienza, da UFRJ. “A ideia básica é que o que chega nesse sinal emitido é a posição e o instante de tempo que o satélite emitiu o sinal”, completa.