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A nova geração da internet móvel, o 5G, ainda está em desenvolvimento e disputa. A expectativa mundial é que a tecnologia supra, especialmente, a demanda ligada à Internet das Coisas. No Brasil, onde ainda há grave déficit de acesso à internet, o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) é pioneiro em uma linha de pesquisa para a ampliação da área de cobertura do 5G, visando atender as regiões remotas do País.

“A ideia é inserir nossas necessidades e especificações no padrão global. O nosso projeto é para provar que é possível dar uma solução ao nosso problema de grandes áreas de cobertura”, relata o engenheiro eletricista Henry Douglas Rodrigues, pesquisador do Centro de Referência em Radiocomunicações (CRR) da instituição.

Até 2015, praticamente metade da população não tinha acesso à internet. O número de domicílios brasileiros com acesso, considerando apenas conexões por telefone celular, correspondia a 51%. Além do fator econômico, já que o quadro de conexão é mal distribuído porque as empresas optam por atender regiões ricas e mais populosas, há ainda a limitação da infraestrutura.

Na busca por soluções para essa questão, há três anos, 15 engenheiros do CRR vêm desenvolvendo um transceptor 5G, simulando a estação radiobase (a torre) e um celular. O aparelho passou por um primeiro teste em agosto deste ano, entre um bloco e outro na Esplanada dos Ministérios, e funcionou. Nova demonstração está prevista para este mês na Escola Municipal Mariquinha Capistrano, área rural de Santa Rita do Sapucaí (MG), com a distância de cinco quilômetros entre os pontos. O objetivo é que o sinal alcance um raio de 50km. Atualmente, o 4G chega a dez quilômetros em uma situação bastante otimista. Em média, não passa de cinco.

Para a fase 1 da pesquisa, que consistiu no desenvolvimento do transceptor e vai até 2019, serão investidos R$ 20 milhões, com recursos da Finep/Funttel. O projeto prevê ainda uma fase 2, quando será criada uma rede propriamente dita.

Velocidade

Além de garantir internet rápida, já que o objetivo é que o 5G alcance uma velocidade 100 vezes maior que o 4G, chegando a 20 gigabits por segundo, existe a busca pela chamada velocidade de baixa latência, que é o tempo de resposta a uma ação, diretamente ligada ao mercado de automação, que envolve controle remoto de objetos como carros, drones, braços mecânicos e máquinas agrícolas. Por exemplo, um carro autônomo precisa de tempo de resposta rápido para proporcionar segurança em situação de colisão.

Rodrigues explica, contudo, que só será possível oferecer 20 gigabits por segundo em um raio de até um quilômetro. Segundo ele, o objetivo é alcançar a borda dos 50 quilômetros com uma vazão de dados de até 100 megabits, que equivale à velocidade que se tem hoje com o 4G. Essa realidade só deve começar a ser implantada em 2020 em diversas partes do globo, inclusive no Brasil, e deverá ser massificada em 2025.

Instituições e empresas daqui e de outros países têm o mesmo interesse e estão atuando em cooperação com o Inatel, como as universidades de Dresden, na Alemanha; de Oulu, na Finlândia; e empresas Telefónica, da Espanha, e Ericsson, do Brasil. Contudo, a performance nacional pode deixar a desejar. “Existe uma complicação para o Brasil que é o fato de não termos corporações de tecnologia, que são capazes de influenciar no padrão. Além disso, o perfil das comunicações está mudando, e as faixas espectrais estão saturadas pela tecnologia 3G móvel e 4G banda larga”, alerta Marcelo Zuffo, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e integrante do Conselho Tecnológico do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp).

Segundo o professor, estão surgindo tecnologias precursoras do 5G, como a Lora e a Sigfox, que utilizam as frequên­cias mais baixas e não reguladas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que já têm alcance de 15 quilômetros. No entanto, acredita-se que estarão saturadas muito rapidamente também. “O grande problema do 5G será a faixa espectral, porque o wireless vai dominar. Já existem pesquisas com frequências altas, acima de 10 giga-hertz [bem superiores à operada pelo 4G, de até 2,6 giga-hertz]. Mas ainda não temos tecnologia para isso”, observa.

O Inatel, por sua vez, utiliza uma nova técnica de modulação alemã chamada Generalized Frequency Division Multiplexing (GFDM) que possui vantagens sobre a usada no 4G atualmente, a Orthogonal Frequency Division Multiplexing (OFDM), como maior eficiência espectral e menor interferência em outros canais. “Pretendemos fazer o uso por todo o espectro, ou seja, onde houver um canal vago, será possível ocupar com menor interferência sobre o que já está sendo transmitido”, diz Rodrigues.