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Dentre os desafios para os próximos anos, que constam nos “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” da Organização das Nações Unidas (ONU), está a busca por energia limpa e acessível, visando o equilíbrio entre o que se produz e o que se consome. Voltado a essa meta, o engenheiro civil e pesquisador do México, José Carlos Rubio Avalos, dedicou-se por nove anos a produzir um cimento que emite luz. Conforme ele, o produto pode contribuir para iluminar ruas, estradas, rodovias, ciclovias, fachadas de edifícios ou ser usado como decoração em ambientes internos e externos.

Em entrevista ao Engenheiro, Avalos contou como a invenção, que ainda não tem nome comercial, começou. “Trabalhava numa empresa de construção que me contratou para desenvolver sinais de trânsito. Então, utilizei plásticos fosforescentes e foi um sucesso no mercado mexicano. Foi só depois dessa experiência que surgiu a ideia de um cimento emissor de luz ou simplesmente fosforescente”, lembrou o pesquisador, que divulgou em 2015 a inovação.

De lá para cá, o cimento ganhou novas cores – além do verde, que é o mais procurado, também há o azul e o laranja, em fase final de teste – e vem sendo aperfeiçoado pelo grupo Sialato, que detém os direitos para comercializar o produto desde 2010, do qual Avalos é CEO.

Tecnologia

A apresentação do cimento fosforescente é a mesma do comum: um pó feito de areia e argila, que misturado à água se dissolve. O grande diferencial e dificuldade do projeto, explica Avalos, é permitir a passagem de luz para seu interior, tendo em vista a opacidade do material. Assim, o engenheiro atuou para que houvesse interação com a luz, gerando o fenômeno da fosforescência.

Sem revelar toda a composição, ele explica em linhas gerais o processo: “A luz emite ondas e partículas, que são os fótons. A interação entre esses e a estrutura atômica (elétrons) do cimento modifica seu estado de energia, aumentando de ‘estado de energia normal’ ou ‘padrão’ para um ‘estado excitado’. Depois que os fótons, a própria luz, são liberados ou quando o cimento está na escuridão, esse retorna ao seu ‘estado normal’. Nesse processo, muitos elétrons se movem emitindo fótons, criando luz até que o cimento seja descarregado.” Esse ciclo se repete até que o produto se deteriore.

Ou seja, o cimento teve sua estrutura alterada, com rearranjo dos cristais que contém para reduzir a opacidade e aumentar entrada de luz no interior dos elementos do concreto durante o dia, ou quando expostos a luz artificial por processos de fotoluminescência.

Ao escurecer, a luminosidade dura até 12 horas e, segundo o inventor, por meio dos processos químicos, é possível controlar a intensidade para não atrapalhar motoristas ou ciclistas. É possível caminhar sobre a superfície em que foi aplicado o cimento após 72 horas, mas a secagem completa leva de sete a 28 dias.

O produto tem durabilidade de cerca de 100 anos, semelhante ao cimento cinzento comum. Isso porque ele é resistente à ação da radiação ultravioleta, ao contrário do que ocorre nos materiais comuns de polímeros fotoluminescentes.

O professor Carlos Eduardo Marmorato Gomes, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), especialista em Materiais e Componentes de Construção, observa que a inovação do produto está na aplicação ao concreto de um resíduo que tem em sua composição algum material fosforescente. “Ele inova na formulação do concreto e ao dar um uso comercial para esse novo material”, diz.

Gomes explica que os materiais utilizados no cimento mexicano são translúcidos, como areia e sílica. “O quartzo, que é uma sílica, permite isso. Já a fosforescência vem de um resíduo industrial”, acrescenta.

Ele ressalta que o fenômeno da fosforescência que dá o aspecto da iluminação ocorre com atraso. “A eliminação da radiação absorvida durante o dia é feita à noite. Esse atraso pode ser obtido com a própria composição inerente do material.”

Existem outros produtos semelhantes, como na Universidade de Kassel, na Alemanha, onde foi desenvolvido o BlingCrete, feito de microesferas de vidro e utilizado desde 2012 em placas nas entradas de túneis e nas bordas de plataformas das estações do metrô, em cores variadas.

Há ainda pesquisas semelhantes na Academia Real de Engenharia de Londres e na Universidade de Tecnologia de Delf, na Holanda.

Comercialização

Até o momento, o cimento desenvolvido no México está em fase pré-comercial e foi aplicado em algumas casas de praia, mas o plano é vendê-lo mundialmente. “Estamos trabalhando em outros países, e o Brasil tem um mercado muito atraente. Estamos procurando investidores brasileiros que queiram importar e comercializar esse material”, revela Avalos. Ainda na América Latina, ele diz que pretende exportar para Colômbia e Argentina.

Empecilho ao uso do material pode ser o preço, já que o cimento fosforescente terá custo estimado de US$ 200 dólares o metro quadrado. Para reduzi-lo, o professor da Unicamp sugere o uso do cimento comum (tipo Portland), que custa em média R$ 25,00, e a aplicação de uma camada mais fina do cimento translúcido.

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