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Pesquisadores, ativistas e representantes do poder público discutiram no Dia Mundial dos Oceanos, 8 de junho, os principais desafios ambientais para o maior e mais importante ecossistema do Planeta, os mares.

Ilhas de Liixo. Foto: Apolo 11Intitulado “O Futuro dos Oceanos”, o seminário, constituído por quatro mesas redondas, debateu os caminhos para a sustentabilidade dos mares e a superação dos principais problemas que desafiam pesquisadores e comprometem o futuro de nossas águas, como a poluição e o aquecimento global.

Promovido no auditório do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, em São Paulo, o seminário é uma iniciativa da revista Scientific American Brasil em parceria com o Instituto Oceanográfico (IO) da USP e o IEA, e conta com apoio institucional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

A primeira mesa foi intitulada “Os Oceanos e as mudanças climáticas: impactos, interações e consequências”. Mediada pelo organizador do evento, Alexander Turra, do IO-USP, foi composta pelo climatologista Tércio Ambrizzi, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, Margareth Copertino, do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande, e pelo representante do Ministério do Meio ambiente (MMA), Régis Pinto de Lima.

Ambrizzi se apoiou no mais recente relatório do IPCC para apresentar o aumento das temperaturas dos oceanos. Ele criticou o lobby das empresas petrolíferas e de carvão, que atrapalham os objetivos para a diminuição do crescimento da concentração de CO2 na atmosfera. “O que temos visto recentemente é a substituição, em alguns lugares, de políticas favoráveis à mitigação da emissão de CO2, da sustentabilidade, por um programa das indústrias de mais emissões e mais queimadas de combustíveis fósseis. E está provado que isso não é bom para o planeta”, diz o pesquisador.

“Vida marinha: como deter a desertificação em curso” foi o nome do segundo painel, que contou com Letícia Reis de Carvalho, coordenadora geral da Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental do MMA.  A especialista defendeu uma maior regulação ambiental em países em desenvolvimento, como o Brasil. Na visão de Carvalho, a produção industrial se deslocou para esses países sem uma legislação adequada.

“Há uma tendência em países de renda média, como Brasil, China e África do Sul”, diz a pesquisadora, “de concentrar e atrair cada vez mais a produção que antes estava em territórios de países desenvolvidos. Nesse sentido, a produção de substâncias químicas, de commodities à química fina, que depois será despejado, via emissões ou resíduos, dentro dos oceanos, está concentrada em países como a China, que não têm as mesmas salvaguardas regulatórias para preservar seu ambiente dos danos dessas substâncias. Isso precisa ser revisto urgentemente.”

Cintia Miyaji, da Associação Brasileira pela Pesca Sustentável, falou sobre a exaustão dos estoques pesqueiros e os problemas ambientais apresentados pela aquicultura, que parecia ser uma solução de baixo impacto para a pesca. “Infelizmente, nós não temos perspectiva a médio prazo de que ações governamentais realmente tratem das questões do manejo da pesca e da aquicultura, por isso é que eu tenho me debruçado lá na ponta, com o consumidor e o varejo, para ver se a mudança de atitude dispara o gatilho econômico da discussão”.

A terceira mesa-redonda, que debateu os desafios e perspectivas das áreas marinhas protegidas, foi composta pela gerente de Cooperação Internacional e Projetos Especiais da Diretoria de Áreas Protegidas do MMA, Ana Paula Leite Prates, Ana Carolina Lobo, do World Wildlife Fund (WWF), Leandra Gonçalves, do IO-USP, Warwick Manfrinato, do IEA. A mediação ficou por conta de Alfredo Nastari, do IEA.

Lobo, do WWF, falou sobre os projetos da entidade para a reciclagem de materiais plásticos, contribuindo para que eles não desaguem no mar. Citando o exemplo de uma máquina doada a uma favela paulistana, que coleta e transforma o plástico em souvenir, a especialista disse como a sociedade, se engajada, pode contribuir. “Esse programa ajuda os moradores locais, que conseguem vender a lembrança por 15 reais, gerando emprego, renda e consciência para essas comunidades. Além, é claro, de contribuir para o meio ambiente, a proteção e a sustentabilidade de nossas águas”, defendeu.

Manfrinato tratou da Reserva da Biosfera, dispositivo de conservação da Unesco para descobrir soluções ambientais. “Obtivemos vitórias importantes, como a ampliação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e a designação de dez novas áreas úmidas como Sítios RAmsar”, exemplifica. O pesquisador do IEA diz que devemos incentivar a sociedade a ocupar seu espaço no debate para acabar com a crise de representatividade em que vivemos.

Na mesa final, “Soluções para um mar sem lixo”, Miguel Bahiense, representante do Fórum Setorial dos Plásticos (Plastivida) e Régis Pinto de Lima coordenador geral do Departamento de gestão ambiental territorial do MMA falaram sobre as empresas como atores no estimulo à reciclagem e criação de planos para evitar que o lixo seja descartado no mar, destacando a importância de alterar a visão da sociedade com métodos educativos e o papel dos eventos e acordos internacionais para a construção de instrumentos de pressão do poder público.

“80% de todo lixo que chega ao mar vem dos continentes e não se trata de um problema fácil de solucionar, muito pelo contrário, é muito complexo pelas suas diversas origens”, discursou o pesquisador do IO-USP, Alexander Turra. Segundo ele, é muito importante seguir últimas recomendações da ONU sobre a produção e o consumo de plásticos, como hastes flexíveis, por exemplo, que chega ao mar através do descarte no vaso sanitário. O pesquisador ressaltou que a situação piora pelo quadro de saneamento básico brasileiro, que não é universal.

SBPC

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