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Os jornalistas Antônio Gois e Verena Fornetti, da Folha de S. Paulo, mostraram que as áreas de engenharia, enfermagem, ciências aeronáuticas e até disciplinas de medicina já foram alcançadas pelo ensino a distância, provocando controvérsias.Conselhos federais criticam ensino semipresencial nessas profissões. Para defensores do método, mesmo em disciplina que exige mais conhecimento técnico, parte do curso pode ocorrer em ambiente virtual

A Universidade de Uberaba (MG), por exemplo, oferece graduação a distância para as engenharias civil, ambiental, de computação, elétrica e de produção, além de um curso de ciências aeronáuticas.

Em Santa Catarina, o centro universitário Leonardo da Vinci tem curso de engenharia de produção a distância. A PUC-RS já teve um de engenharia química e a Universidade Federal de São Carlos começou no ano passado sua engenharia ambiental nesse formato.

No caso dos cursos de enfermagem, ao menos duas instituições oferecem ele a distância: Uninove, de São Paulo, e Uniderp, de Mato Grosso do Sul. Licenciatura em educação física pode ser feita na Universidade Federal do Amazonas e na Universidade Fumec, de Minas Gerais.

Na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), os alunos de medicina podem fazer parte do curso de graduação na modalidade semipresencial. Parte do conteúdo da disciplina "Técnica Operatória e Cirúrgica Experimental", cursada pelos alunos do terceiro ano, é oferecida a distância.

Alerta

A maioria dos cursos realizados a distância ainda é dado nas áreas de educação e administração (73% deles estavam nesses dois grupos). Sua expansão para áreas menos usuais, no entanto, põe em alerta algumas entidades.

No ano passado, o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, em seu 6º Congresso Nacional, aprovou uma resolução de "não apoiar a graduação a distância para formação em qualquer nível".

Posição semelhante tem o Cofen (Conselho Federal de Enfermagem). "Os cursos da área de saúde exigem formação prática muito grande e não há como oferecê-los a distância. Nos preocupa muito a possibilidade de pessoas que serão formadas para cuidar de gente terem pouco contato com pacientes em sua formação. Não se aprende enfermagem cuidando de bonecos", diz Manoel Neri, presidente do órgão.

Especialistas em educação a distância defendem a modalidade. Para Vani Kenski, da USP, mesmo nos cursos que exigem mais conhecimento técnico, disciplinas podem ser planejadas para que haja uma parte em ambiente virtual.

Fredric Litto, da Associação Brasileira de Educação à Distância, conta que nos EUA as universidades oferecem graduação em cursos técnicos a distância há bastante tempo. "O curso é mais organizado."

Cobaias

Valdício dos Passos, 49, e Jonathan De Marco, 24, são colegas no curso de engenharia ambiental a distância da UFSCar com experiências bem distintas. Passos já é formado em engenharia química e não precisou fazer as aulas de cálculo, temor de tantos alunos. De Marco faz um curso superior pela primeira vez.

"O curso exige muito mais disciplina, mas estou satisfeito. Só não sei como estão fazendo os alunos que estão estudando cálculo", diz Passos.

De Marco responde: "Os coordenadores não estão pegando pesado logo de início. Num curso tradicional, você tem ao lado um amigo que te dá uma força, mas estamos montando um grupo que se encontra no fim de semana. Isso ajuda bastante, além do apoio dos professores".

Cursos estão regulares, diz ministério

Não há irregularidade na oferta de cursos a distância em engenharia, enfermagem ou outros cursos menos tradicionais. O secretário de Educação à Distância do Ministério da Educação, Carlos Eduardo Bielschowsky, diz, no entanto, que todos terão que passar pelo processo de avaliação e reconhecimento ou por uma supervisão realizada por especialistas.

Bielschowsky diz que, no momento de elaboração da legislação, houve discussão se o MEC deveria estipular um percentual máximo da carga horária do curso que poderia ser feito a distância.

"Mas optamos por não definir um percentual por achar que isso limitaria o projeto pedagógico. Nossa avaliação foi a de que o mais importante era fazer um acompanhamento rigoroso para garantir a qualidade. Foi por isso que estabelecemos um marco regulatório para o setor e elaboramos referenciais de qualidade."

Ele afirma, no entanto, que nem todos os cursos são perfeitamente adaptáveis ao ensino a distância. "Numa área em que mais de 70% das atividades são presenciais, não vejo sentido em oferecer a distância, mas é difícil estabelecer quais são apropriados e quais não são", disse.

Coordenadores dizem que qualidade de cursos é mantida

Coordenadores de cursos a distância afirmam que a qualidade não é afetada. Na Universidade de Uberaba, Daniela Orbolato, diretora de engenharia de computação, e Clidenor de Araújo Filho, coordenador de engenharia elétrica, dizem que os alunos são submetidos aos mesmos critérios de avaliação dos cursos presenciais. Em todas as engenharias semipresenciais da Uniube, mais de 60% da carga horária é a distância.

Luiz Marcio Poiani, coordenador de engenharia ambiental à distância da UFSCar, diz que a troca de experiências entre alunos que vivem em cidades com diferentes ecossistemas enriquece o curso, que tem aproximadamente 70% de suas atividades a distância.

No caso da PUC-RS, a primeira experiência a distância em engenharia química não foi adiante. O curso foi oferecido até 2006 e, de 29 ingressantes, apenas três concluíram.

"Criamos o curso para atender a uma demanda específica de uma empresa. Como não houve mais essa demanda, ele foi extinto, mas achamos que é possível, sim, formar um engenheiro químico com qualidade a distância", diz José Nicoletti Filho, coordenador do curso.

José Augusto Peres, pró-reitor da Uninove, diz que no curso de enfermagem à distância da instituição todas as disciplinas fundamentais na formação são presenciais. Elas representam cerca de 50% da carga horária do curso.

"Ninguém vai aprender anatomia humana a distância, mas é possível fazer isso com sociologia, administração ou outras disciplinas-satélites."

Ednilson Guioti, diretor da Uniderp Interativa, também defende o curso de enfermagem da instituição com o argumento de que apenas 28% da carga horária é a distância. Nessa conta, ele está considerando que as aulas via satélite são presenciais por serem acompanhadas por professores nos pólos de apoio do curso.

(Folha de S. Paulo, 3 de Maio)

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