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educacao pandemiapandemia trouxe uma série de transformações e há quem diga que muitas vieram para ficar. Uma delas é a implementação da educação através do ensino remoto e das aulas síncronas a distância. No entanto, enquanto muitos celebram o fato de que, finalmente, a escola se transformou e chegou no mundo da revolução 4.0, o professor Marcos Dantas faz um alerta: “estamos usando Zoom, Google Classroom, Microsoft Teams de uma forma completamente irresponsável”. Isso porque essas plataformas, como a maioria das que operam na última geração da internet, capturam dados dos usuários e armazenam tudo que for gerado em seus ambientes. “Considero isso uma tragédia a longo prazo, porque se está entregando a essas plataformas a própria formação da identidade e da cultura brasileira”, acrescenta.

O debate não é novo e o professor lembra que isso está na discussão dos usos desses aplicativos que parecem facilitar nossas vidas. “Enquanto se está discutindo sobre R$ 600 para a pessoa não morrer de fome, o Facebook e o Google estão ganhando bilhões de dólares de uma forma completamente invisível em cima de nossas atividades”, alerta. Mas o quadro se acentua quando se trata de educação pública e dos jovens, que se imagina serem o futuro das nações. “É muito triste isso tudo que está acontecendo, num momento em que poderíamos estar aproveitando a pandemia para reconstruir pelo menos os sistemas educacionais, pois temos uma excelente Rede Nacional de Pesquisa que poderia ser a base para se construir uma rede pública a serviço da educação”, lamenta.

No entanto, Dantas reconhece que esse não é um debate fácil, pois muitas pessoas dizem que a estrutura estatal é lenta e incapaz de gerar as respostas que se precisa diante de quadros como esse, especialmente num curto espaço de tempo. Todavia, lembra o professor, é preciso compreender que para as empresas isso é um negócio. A empresa “não me responde, está perdendo dinheiro. Ela não me responde logo porque é boazinha ou competente, mas porque se não fizer isso está perdendo dinheiro”, reitera.

Para ele, mesmo que se pareça nadar contra maré, é preciso tensionar e levantar esse debate. “Quando se veem documentários como ‘The Social Dilemma’ ou ‘Privacidade Hackeada’, percebe que começa a crescer na sociedade um debate sobre essas questões”, aponta. Debate esse que, quem sabe, pode levar à definição das plataformas como um serviço público, algo que, no contexto ideológico atual, segundo o professor, seria uma autêntica ‘apostasia'. “Essas plataformas, FacebookYouTube etc., no mínimo têm que ser reguladas pelo Estado, assim como há cem anos passamos a ter leis para energia elétrica, telefonia e uma série de serviços públicos, nascidos com base em tecnologias que eram revolucionárias ou inéditas à época”, dispara.

Confira a entrevista completa.

Instituto Humanitas Unisinos