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É necessário se indignar e criticar o que está errado, mas apenas reclamar não basta. Os profissionais da área tecnológica têm o dever de atuar conjuntamente para buscar saí­das à crise econômica e contribuir para que o Brasil retome os rumos do crescimento. Essa foi a mensagem enfática do presidente da FNE, Murilo Pinheiro,  durante palestra proferida em 1º de setembro, na cidade de Foz do Iguaçu. A atividade aconteceu no último dia de programação da Semana Oficial de Engenharia e Agronomia (Soea), iniciada em 29 de agosto na cidade paranaense.

À plateia composta por cerca de 3 mil pessoas, Pinheiro  fez uma convocação de engajamento ao movimento “Engenharia Unida”, que propõe a formação de uma ampla aliança, com participação do conjunto das entidades, escolas e empresas do setor, em defesa do desenvolvimento e da valorização profissional. “Isso representa uma possibilidade de debater o País que queremos”, afirmou.  “Acredito que nós podemos, juntos, a partir de uma discussão de alto nível, apresentar saídas ao povo brasileiro”, defendeu.

Na avaliação do dirigente, espaços como a Soea – que reuniu a representação dos profissionais de todo o País – devem ser aproveitados como oportunidade também de diálogo com a sociedade. “Precisamos trazer as autoridades para ouvirem o que temos a dizer”, propôs. Além disso, Pinheiro acredita ser necessário que os engenheiros se façam presentes no debate público e nas soluções das questões nacionais prioritárias: “Devemos fazer uma discussão, por exemplo, em Mariana, onde aconteceu o maior crime ambiental da nossa história.” Para o presidente da FNE, o objetivo não seria descobrir quem errou, “mas como resolver o problema”.

O dirigente sindical colocou em pauta também as ameaças aos direitos dos trabalhadores que podem ser aprovadas no Congresso Nacional, como a terceirização da atividade-fim, a reforma da Previdência Social com a restrição do acesso à aposentadoria e a mudança na legislação trabalhista. “Se não estivermos unidos, o trator passará por cima”, advertiu. Apesar da crise e do quadro de dificuldades, ele afirmou apostar em resultados positivos se houver “muita luta e trabalho”.

Projetos vitoriosos

Como exemplos de ações que podem gerar ganhos para a categoria e a sociedade, Pinheiro listou duas iniciativas da FNE consideradas vitoriosas. A primeira delas é o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, lançado pela entidade em 2006 em meio a uma grave estagnação econômica. O objetivo era promover o debate público em torno da necessidade de retomada da expansão  do Produto Interno Bruto (PIB). Para que o projeto tivesse consistência, o instrumento utilizado foi o saber dos engenheiros e a mobilização da categoria.

Assim, a elaboração das propostas da federação contou com a produção de notas técnicas por especialistas e o debate realizado em dezenas de seminários em todas as regiões do País com a participação de milhares de profissionais. O primeiro fruto desse esforço foi a edição inaugural das publicações do projeto que  defendia a possibilidade de retomada do crescimento econômico aos patamares de 6% ao ano. Isso exigia ampliar investimentos públicos e privados para 25% do PIB e promover alterações na política econômica, baixando juros e incentivando a produção. O documento apontava os gargalos em infraestrutura e o que precisava ser feito em áreas como energia, transporte e logística, transporte público e mobilidade, comunicação, sanea­mento, ciência e tecnologia e agricultura.

Entre as várias etapas subsequentes, estão discussões sobre as regiões metropolitanas, a crise financeira de 2008 e como superá-la, os desafios da indústria brasileira e as possibilidades trazidas pela Copa 2014 em termos de aperfeiçoamento da infraestrutura. Por fim, foi lançado em 29 de junho último o “Cresce Brasil – Cidades”. Esse foca a qualidade de vida da população e o desenvolvimento local com o objetivo de promover a discussão por ocasião das eleições municipais e, depois disso, com os gestores escolhidos. O trabalho aborda financiamento dos municípios, habitação, saneamento, mobilidade urbana, iluminação pública e internet pública. “Candidatos a prefeito em todo o Brasil receberam o documento como contribuição da engenharia ao seu programa de governo”, informou Pinheiro.

O segundo exemplo apresentado pelo presidente da FNE foi o Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), criado e mantido pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp), com apoio da federação. A instituição lançou o primeiro curso de graduação em Engenharia de Inovação do Brasil, com uma avançada proposta pedagógica que inclui excelência no ensino e método de  aprendizagem que valoriza a criatividade e o domínio do conhecimento em vez da mera memorização de fórmulas e conceitos. O curso tem 4.620 horas, carga superior à que é exigida pelo Ministério da Educação, e é ministrado em período integral ao longo de cinco anos. Para completar, o Isitec oferece bolsa a todos os estudantes, que frequentam a escola gratuitamente. “É a nossa contribuição à sociedade brasileira”, concluiu Pinheiro.