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Empossado em 29 de janeiro, o engenheiro Vahan Agopyan é o novo reitor da Universidade de São Paulo (USP). Professor titular em Materiais e Componentes de Construção Civil e ex-diretor da Escola Politécnica (Poli-USP), foi ainda presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT).

Assume a reitoria após uma insolvência financeira agravada nos últimos dois anos, conforme Relatório de Gestão da USP (2014-2017).

Com 42 unidades de ensino e pesquisa, além de institutos especializados, museus e hospitais distribuídos em oito campi (localizados nas cidades de São Paulo, Ribeirão Preto, São Carlos, Bauru, Lorena, Santos, Piracicaba e Pirassununga), com 88.800 alunos matriculados em 182 cursos de graduação e pós-graduações com aulas de mais de 5 mil docentes, a USP é uma das mais importantes universidades públicas do País. O orçamento previsto para 2018 é de cerca de R$ 5,177 bilhões. Agopyan frisa como um dos principais objetivos em sua gestão o retorno à sociedade de tudo o que a universidade pode desenvolver: “É nossa obrigação como instituição pública.”

Quais os principais objetivos da nova reitoria?

Nossa proposta é baseada em três eixos. O primeiro é a busca contínua por excelência. Temos que retribuir à população contribuinte uma instituição de ensino e pesquisa de excelência, é nossa obrigação como instituição pública. O segundo eixo é fazer excelência a serviço da sociedade, para que esta enxergue a universidade como agente de transformação. Para a maioria da população, a universidade é apenas um ensino de terceiro grau. Precisamos que as pessoas a vejam como um local de debate, de desenvolvimento de conhecimento, de transformações. E isso nos leva ao terceiro eixo, a valorização dos recursos humanos, que inclui funcionários, mas também estudantes. O alunato de hoje tem que se sentir inserido na universidade, participante. Assim, além de um excelente profissional, o aluno que aproxima seu conhecimento dos desafios sociais se torna um cidadão melhor.

O senhor assume a reitoria após forte crise financeira da USP. Qual é o plano da nova gestão para essa área?

Tivemos uma crise financeira que pegou nosso país como um todo, e isso refletiu na universidade de uma maneira muito forte. A USP tomou as medidas necessárias do ponto de vista econômico, mas, mais do que isso, para prevenção de futuras crises. Nós criamos uma controladoria dentro da universidade. Os grandes gastos são feitos com a aprovação do conselho universitário, formado por dirigentes de todas as unidades da USP, mais um representante de cada congregação da universidade, dos discentes, docentes, funcionários e externos, esses últimos representando apenas 5% do conselho. Com isso temos transparência, todo mundo sabe o que está acontecendo.

Como fazer com que a universidade se aproxime mais da sociedade?

A universidade tem, na condição de transformadora da sociedade, que formar profissionais para atender as necessidades da própria sociedade, das empresas presentes nela, mas também formar profissionais que possam fazer com que essas empresas progridam e sejam cada vez mais competitivas internacionalmente. Todo conhecimento tem que ser traduzido em benefício para a sociedade. Nesse ponto sou bastante categórico, não adianta ter o conhecimento somente na prateleira. No caso da engenharia, mais ainda, isso é essencial, porque engenharia é lidar com os problemas do dia a dia. Então o conhecimento científico tem que ser transportado à vida real, isso é inovação. E iniciativas voltadas à inovação são essenciais, como o trabalho do Isitec (Instituto Superior de Inovação e Tecnologia, mantido pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo – Seesp, com apoio da FNE).

De que forma será a busca por excelência?

Para a USP, um instrumento na busca por excelência é a internacionalização. É uma ferramenta de qualidade. Nosso objetivo é criar um ambiente internacional de ensino e pesquisa dentro do nosso próprio campus, através de pesquisas conjuntas com universidades internacionais parceiras. Procuramos universidades estrangeiras competentes para essas parcerias. Quando se tem estudos e pesquisas conjuntas, o duplo diploma é uma consequência. No caso particular da engenharia, a internacionalização, além de ser uma qualidade, é uma realidade. Mesmo em áreas em que a regionalização é imperativa, como a civil, muita coisa é feita de uma maneira internacional. O engenheiro brasileiro, assim como qualquer outro profissional, tem que ter competência e ser competitivo internacionalmente.

Houve queda na classificação da USP em alguns rankings de qualidade. Nesse sentido, a internacionalização pode ser um desafio?

Nossos parceiros do exterior têm confiança no trabalho que é feito aqui. Os rankings têm diferentes análises de reconhecimento. No ranking internacional Quacquarelli Symonds (QS) World University, a USP aparece como a melhor universidade ibero-americana. Curiosamente, no mesmo ranking, quando classificadas as melhores faculdades latino-americanas, a USP não está mais em primeiro lugar. Temos o reconhecimento internacionalmente, mas não no âmbito regional. Entretanto, a USP faz parte de uma rede latino-americana de universidades de ponta (Red de Macro Universidades de América Latina y el Caribe). Isso auxilia não só em classificações, mas também para confirmar a reputação na América Latina.