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Desde sua popularização, a partir da década de 1930 – quando foi incorporado aos tecidos (com o poliéster, em1932, e o náilon, em 1938) e aos utensílios domésticos (PVC, em 1933, poliuretano, em 1939, teflon, em 1941, e silicone, em 1943) –, a produção de plásticos deu salto astronômico.

De 15 milhões de toneladas em 1964, passou a 311 milhões de toneladas em 2014. O aumento de 2.073% foi apurado em levantamento feito pela Fundação Ellen MacArthur. O estudo indica dificuldades no que diz respeito ao destino de todo esse material, que pode levar até 800 anos para se decompor.

O problema se deve a fatores como a baixa adesão à reciclagem, práticas irregulares de manejo de resíduos sólidos e falta de consciência ambiental. “Não é possível ver um mundo sem plástico hoje. O problema maior é a falta de educação das pessoas em descartá-lo. São atirados a esmo, em qualquer lugar”, critica Carlos Alberto Guimarães Garcez, vice-presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp) e coordenador do encontro de meio ambiente “Eco São Paulo”, promovido pela entidade desde 2002.

Segundo dados compilados no documentário “Oceano de plástico”, dirigido em 2016 pelo jornalista Craig Leeson, 80% do plástico descartado irregularmente, o que corresponde a 8 milhões de toneladas por ano, é depositado em encostas de praias, rios e lagos e transportado por meio dos canais e correntes marítimas às águas profundas, habitat de centenas de espécies que acabam se alimentando do material, sofrendo contaminação e morte. Conforme a Fundação Ellen MacArthur, se o ritmo atual da produção e descarte se mantiver, em 2050, em peso, haverá mais plástico nos oceanos do que peixes.

“O plástico vai se degradando ao longo do tempo e vai se tornando menor, em partículas até imperceptíveis, formando uma espécie de sopa em meio ao oceano. É o microplástico, que também está nas roupas de fibras sintéticas eliminadas na lavagem”, explica o biólogo Lucas Barbosa, colaborador do Laboratório de Manejo, Ecologia e Conservação Marinha do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP).

O laboratório da USP, em parceria com o Instituto Plastivida, mantido pela indústria do setor, realizou, entre 2012 e 2016, monitoramento em seis praias do litoral paulista (Ubatumirim, Boraceia, Itaguaré, do Una, Jureia e Ilha Comprida), três da Bahia (Taquari, Jauá e Imbassaí) e três de Alagoas (Francês, Ipioca e do Toco), onde foi identificado que mais de 90% do lixo encontrado nas praias brasileiras é composto por itens feitos de plástico, como embalagens de alimentos, garrafas, copos descartáveis, canudos, hastes flexíveis, embalagens de sorvete e redes de pesca. “Aproximadamente 80% do lixo é decorrente de falhas nos serviços de coleta e destinação final de resíduos. Os outros 20% são gerados nos mares, por conta das atividades ali realizadas, como pesca, transporte mercantil, cruzeiros e atividades recreativas”, relata Barbosa.

 

Pesquisa e políticas públicas

Ele informa que estão sendo pesquisadas soluções para eliminar as partículas de microplástico. Uma saída seria o desenvolvimento de substância solvente capaz de quebrar as moléculas do plástico, transformando-as em átomos de carbono. Estudo realizado pelo Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em colaboração com a University of Portsmouth, do Reino Unido, e o National Renewable Energy Laboratory, dos Estados Unidos, obteve o melhoramento da PETase, enzima capaz de digerir o polietileno, descoberta há dois anos por pesquisadores japoneses.

A equipe brasileira, ao tentar transformar a PETase em cutinase (enzima estruturalmente semelhante encontrada em florestas brasileiras), tornou-a, acidentalmente, mais eficiente, degradando mais em menos tempo e, portanto, proporcionando a decomposição do plástico mais rapidamente. “A petase surgiu por mutações de bactérias existentes na natureza que se adaptaram e passaram a quebrar polímeros da cadeia que compõem o plástico”, explica o físico Munir Skaf, que coordena o estudo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio do Centro de Pesquisa em Engenharia e Ciências Computacionais da Unicamp.

Apesar de a enzima não ter eficácia em ambiente aberto, como o mar, informa o pesquisador, seu uso se mostra promissor: “Seria possível produzi-la em larga escala para aplicá-la numa usina de tratamento de plástico, previamente triturado. Em poucos dias, haveria subprodutos, já que o material deixaria de ser plástico, tornando-se molé­culas que constituíram o polímero que poderiam ser usadas como matéria-prima na fabricação de outros produtos, como adubo ou tinta. Diferentemente do que é feito hoje na reciclagem mecânica convencional, que resulta em grânulos que ainda são plástico e só podem ser usados como tal”, afirma. Com essa possibilidade, pondera Skaf, a coleta do material nos mares e encostas se tornaria atrativa ao setor produtivo e governamental.

Mais de dez países ao redor do mundo já aprovaram projetos de lei que visam reduzir o uso de plásticos. Índia, Bélgica e Noruega são alguns dos exemplos, além dos latino-americanos Uruguai, Costa Rica e Panamá. Em maio deste ano, a União Europeia se posicionou favoravelmente ao fim da fabricação de copos, canudos e embalagens plásticas. A França aprovou, em 2017, lei que proibirá, a partir de 2020, a venda de talheres, copos e plásticos descartáveis que não sejam biodegradáveis. Mais recentemente, em julho último, o Rio de Janeiro tornou-se a primeira capital do País a banir os canudinhos de plástico, após uma campanha vitoriosa de organizações da sociedade civil.