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Resultado de debates realizados por ocasião da 12ª Jornada Rumo ao Brasil 2022, realizada em São Paulo no dia 10 de agosto pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), foi aprovada ao final do evento, por unanimidade, a Carta aberta “A CNTU e as eleições 2018”.

Em convergência com a Agenda Prioritária da Classe Trabalhadora, lançada pelas centrais sindicais – que realizavam na mesma data o “Dia do Basta” –, o documento reúne dez propostas. O objetivo é articular ação unitária no pleito de outubro, em prol da “reconstrução da democracia real, do desenvolvimento sustentável e sustentado e da valorização do trabalho e dos trabalhadores”. À abertura, o presidente da confederação – que também está à frente da FNE –, Murilo Pinheiro, apontou “a grandeza de nossas profissões, cada vez mais contribuindo ao Estado e ao Brasil”. E endossou a importância das eleições deste ano para se retomar a rota do crescimento. 

A CNTU se coloca como protagonista nesse processo, representando mais de 2 milhões de profissionais de nível universitário, conforme destacou o coordenador do evento e diretor de articulação nacional da entidade, Allen Habert. “E nós temos um enorme desafio de reconstruir a democracia e o desenvolvimento do País”, salientou. Em sua fala, ele pontuou a venda da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e o desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS) como símbolos da desnacionalização e perda da soberania nacional. “A CNTU diz não a isso”, frisou. Apesar da 'deforma' trabalhista, o dirigente defendeu: “Vamos atravessar sim essa tempestade e mostrar a importância do sindicalismo.”

Também compuseram a mesa de abertura a vice-presidente da CNTU, Gilda Almeida de Souza, e os representantes das entidades congregadas à confederação (Economistas, Engenheiros, Odontologistas, Farmacêuticos e Nutricionistas). Estiveram presentes ainda o vereador de São Paulo Gilberto Natalini (PV) e o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP).

A atividade incluiu ainda homenagem ao jornalista Audálio Dantas, conselheiro consultivo da entidade com amplo legado em prol do País, que faleceu em 30 de maio último. Também foram empossados na oportunidade novos integrantes do Conselho Consultivo da CNTU, em sua 13ª Plenária. Agora são 1.378 membros.

 

Conjuntura e perspectivas

“O Brasil parou. O desenvolvimento depende muito de instituições que o promovem, as quais foram pegas de maneira violentíssima nos últimos quatro anos”, enfatizou no ensejo Júlio Sérgio Gomes de Almeida, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Segundo ele, é preciso reconstruí-las. Caso por exemplo do “BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que financia o investimento e está numa camisa-de-força. É necessário repensar as taxas de referência, o acesso a financiamento”.

Para Almeida, é crucial retomar o investimento público para o País avançar. Ao que “tem que se rever a lei do teto (Emenda Constitucional 95, que congela gastos públicos sociais por 20 anos)”. A partir daí, ele acredita que seja possível vislumbrar “uma luzinha no fim do túnel em menos de três anos”. Vinculada a essa questão, o diretor do Iedi indicou também a demanda por se repensar o orçamento de ciência e tecnologia, “se quisermos fazer parte da quarta revolução industrial”. Por fim, assinalou a premência de se fortalecer o mercado interno. “Não podemos deixar que esse processo, não inteiramente dizimado, acabe. É necessário defender programas sociais como instrumentos de crescimento”, frisou.

Antonio Corrêa de Lacerda, diretor da Faculdade de Economia, Administração, Contábeis e Atuariais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e consultor do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, da FNE, enxerga como principal desafio “trazer a decisão econômica para o que interessa à nação”. Ele explicou: “A ideia de que pretensa ‘austeridade’ levaria ao resgate da chamada confiança permeia a fala dos rentistas e os discursos na grande mídia. É uma escolha equivocada.” E questionou: “Como é possível sair da crise se os elementos centrais para a tomada de decisões estão distorcidos?

Tem-se alta taxa real de juros, o menor nível de investimentos públicos (30% abaixo do de 2014) e sem perspectiva de alterar esse volume enquanto não se rever a Emenda Constitucional 95.” Para Lacerda, as eleições se apresentam como oportunidade para mudar esse estado de coisas.
Não obstante, para Aldo Fornazieri, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP), “democracia” não existe no Brasil para 60% a 70% de sua população. “Temos um Estado violento contra populações pobres nas periferias. O País é um dos dez mais desiguais do mundo, o quinto que mais mata mulheres e um dos que mais matam jovens. Mais de 100 milhões de pessoas vivem com um salário mínimo.”

Professor do lnstituto de Economia da Unicamp e diretor do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit), Denis Maracci Gimenez acredita que um novo governo comprometido com canais de mobilidade social, desenvolvimento e crescimento terá que lidar também com o alto número de desempregados – 13,2 milhões, além de 4,3 milhões no desalento. A força de trabalho subutilizada alcança 26 milhões de pessoas e praticamente 35% estão no Nordeste. Como explicou Gimenez, a regressão no trabalho levou ainda à queda de 1,5 milhão de postos na indústria e mais 1 milhão na construção civil, dos quais 500 mil somente no Nordeste. Ademais, entre os empregados, a maioria recebe até R$ 1.307,00. “Assentado historicamente em baixos salários e elevada rotatividade, o mercado está muito desorganizado e é sobre esse que se propõe reforma trabalhista como lenitivo aos problemas brasileiros, um desastre completo”, lamentou o diretor do Cesit. E acrescentou: “É mister repensar isso.”

*Colaborou Jéssica Silva

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