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Cresce Brasil

Enquanto o Brasil pende para o favorecimento da política dos Estados Unidos para a Aḿérica do Sul, a China tenta criar bases concretas para aumentar as relações de comércio da Ásia com o continente. Dentro das disputas geopolíticas entre os dois polos, é evidente o avanço chinês em poderio econômico e integração regional, expressa na chamada rota da seda e no crescimento da Eurásia, e na competição tecnológica, motivo da guerra entre Huawey e gigantes como a americana Google.

Dinamizar o comércio no hemisfério sul é parte desse avanço e interessa igualmente aos países da região sulamericana, incluida a exportação brasileira, que tem importante mercado no mundo asiático. 

Atual saída marítima de Chancay, no PerúPara concretizar o intercâmbio transoceânico, o governo do Peru e a empresa chinesa Cosco Shipping Ports Limited assinaram um acordo que prevê a construção de um porto multipropósito na pequena cidade de Chancay, distante 80 km da capital, envolvendo investimentos de US$ 3,2 bilhões.

Além do terminal a ser construído pela Cosco Shipping, o complexo portuário prevê uma área localizada a menos de 2 km, para  atividade logística, além de um túnel rodoviário para ligá-la diretamente à saída para o mar.

O porto deve facilitar o envio direto, mais rápido e com menor custo, de produtos sulamericanos aos países da Ásia e Oceania, incluida a facilidade adicional para o comércio com os países das Américas diretamente pela costa do Pacífico. Será também um modo de desafogar e compartilhar cargas com o atual porto de Callao, que fica próximo à Lima.

O porto representará, especialmente, uma nova aproxima com a rota da seda,  que hoje da vazão ao intenso fluxo comercial desde o extremo sul asiático até a Europa, assim como melhorará o acesso asiático ao mercado sulamericano.  No momento, apesar da visita do vice-presidente, general Mourão, à rota da seda, a política brasileira tem apontado para o afastamento da China. Algumas exportações brasileiras ao mercado chinês já foram substituídas por fornecedores americanos, e não existe mais a instância de acordos comuns representada anteriormente pelo Brics - que o Brasil abandonou durante o governo de Michel Temer. Mas as trocas comerciais ainda são intensas e estratégicas para a economia brasileira.

A saída do Brasil para o Pacífico, através de acordos com o Peru, como estratégica de integração econômica da região tem sido discutido já há vários anos, levando inclusive à construção da BR-317, a Interoceânica, percorrendo 2,6mil quilômetros a partir do Acre,  e que  foi objeto de vistoria técnica da engenharia brasileira, capitaneada pela FNE, tendo em vista as incertezas quanto o impacto que teria sobre as áreas de floresta e outras questões ligadas à construção. Existe ainda um projeto de ligação ferroviária a partir do porto de Santos. Fora isso, em 2018, o governo da Bolívia lançou a proposta de construção de uma ferrovia ligando o porto brasileiro de Santos, a um novo porto peruano, que o governo pretende construir na cidade de Ilu, há mil quilômetros ao sul de Lima. Seria uma alternativa mais econômica a outra proposta chinesa, de 2015, de financiar uma ligação ferroviária de 8 mil quilômetros ligando a Amazônia brasileira a um porto no norte.

As relações comerciais dos países costeiros da Américas com o outro lado do Pacífico vêm sendo discutidas há vários anos, levando à proposta de Parceria Transpacífica, inconclusa até a saída dos Estados Unidos, em 2018, quando o governo Trump, sem sucesso na tentativa de impor restrições excessivas no capítulo da propriedade intelectual e outras barreiras agrícolas, decidiu romper com o tratado em construção. Os demais 11 países envolvidos retomaram a proposta, eliminando de uma vez, não apenas a necessidade de participação dos EUA, mas também o item da propriedade intelectual do acordo e relativizando outros itens exigidos pelos estadunidenses. Desde março de 2018, iniciaram o processo de submissão do tratado,  renomeado agora como Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífico (CPTPP), à apreciação e aprovação em em seus países, o que ainda está em curso.

A parceria reúne Canadá, Chile, Austrália, Brunei, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura e Vietnã, que representam juntos 13,5% da economia global e um mercado de 500 milhões de pessoas,um emergente bloco econômico maior do que a União Europeia (UE).  O porto de Chancay, que  deve começar a ser construido na próxima década,  tem, portanto, seu peso na disputa geopolítica e de guerra tecnológica entre Estados Unidos e China. Nesse caso, pendendo mais para o lado dos tigres.

Rita Freire - FNE

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