sociais

logos

Cresce Brasil

Vivemos uma nova era, uma Quarta Revolução Industrial. Um Mundo 4.0 nos desafia a cada momento. O universo da inovação com seguidas disrupções e de transformações profundas se desenvolve de forma exponencial e no qual o desenvolvimento de modelos mentais exige que inteligência humana coletiva seja praticada.

Educação 4.0Mas, estranhamente, na maioria das “salas de aula” (um espaço já há muito tempo ultrapassado) os estudantes continuam agrupados e sentados em cadeiras, formando filas, um atrás do outro, assistindo exposições de professores (lá na frente, às vezes caminhando sobre tablados elevados ou à frente de púlpitos, sempre fisicamente bem afastados dos alunos) como se aqueles docentes fossem a única fonte de conhecimento existente.

Pior, talvez, sejam as formas como os Eventos Científicos (tais como Seminários, Congressos, Simpósios, Colóquios, Workshops, dentre outros similares) continuam sendo organizados, pois, em geral, mantém a separação explícita entre os participantes (os ouvintes, o público) e as supostas autoridades que expõem dado assunto.

Nos eventos em questão o público ouvinte é disposto em plateias e ficam, também, sentados em cadeiras arrumadas, geralmente, em semicírculos (quando não são reunidas de forma exatamente igual às das ultrapassadas “salas de aula”) para escutar alguém (autoridade) falando (e falando) “com propriedade” como se este alguém fosse, também, a fonte única de algum conhecimento que antes já não estivesse acessível (em algum lugar quer seja no mundo físico ou no mundo virtual).

Estranho, muito estranho, pois vivemos a Era da Comunicação e das TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) que invadem todos os lugares.

Tem algo de “errado” acontecendo. Parece que o modelo mental das pessoas (inclusive dos estudiosos, dos pesquisadores, das autoridades) que buscam e transmitem conhecimento ainda não evoluiu, não deu o salto. Embora uma Revolução Tecnológica na Educação esteja acontecendo em conjunto com a indústria 4.0 a “Educação” (agonizante em inúmeras partes do globo) vive no passado esforçando-se por não sair de lá, ou pior, vivendo a ilusão de estar em conexão com as transformações tecnológicas a que somos “obrigados” a experimentar todos os dias.

O mais estranho é que os próprios divulgadores ou defensores das novas ou inovadoras Tecnologias em Educação, em sua maioria, continuam a se servir das mesmas “técnicas” ou “ambientes” já há muito provados serem ineficientes frente aos avanços do Mundo 4.0 para ensinar ou aprender. Embora existam discursos inflamados sobre o uso das EdTechs (Tecnologias Educacionais e Metodologias Ativas que incentivam a cultura maker) não se consegue abandonar a utilização do quadro de giz. Estranho; muito, muito estranho.

Entretanto, manter a transmissão de conhecimento presa aos modelos do passado é simplesmente um absurdo diante das tecnologias ou possibilidades tecnológicas existentes atuais e do novo modelo mental da colaboração que se expande aceleradamente no mundo e onde o conhecimento não é mais propriedade de poucos “conhecedores” (autoridades). O conhecimento é de todos e quanto mais for compartilhado por meio da inteligência coletiva muito mais conhecimento poder será gerado entre todos.

Os novos paradigmas da era da colaboração e os seus efeitos tanto na vida pessoal ou profissional, quanto na vida acadêmica ou científica, comparados com aqueles modelos mentais da competição são enormes e mostram como é possível estimular o desenvolvimento de mindset positivo capaz de considerar que os desafios devem ser vencidos de forma colaborativa com a soma das expertises de cada um para que todos possam ganhar. O aprendizado por repetição já teve o seu tempo e o paradigma da competição para a ascensão ao imaginário “topo do poder”, também, já teve a sua vez na história.

Com a adoção da “colaboração entre profissionais” em detrimento da “competição entre profissionais” o mundo do trabalho sofrerá profundas modificações, modelos mentais centrados na cooperação passam a ser exigidos, hard skills e soft skills caminharão em associação, muitos postos de trabalho deixarão de existir e inúmeros outros empregos serão criados para atender possibilidades nunca antes imaginadas. O Mundo 4.0 já impõe novas formas de organização dos quadros organizacionais uma vez que a hierarquização de tarefas e os relacionamentos de autoridades tanto quanto as coordenações e a motivação para o alcance dos objetivos das empresas passam a ser pensados em níveis semelhantes de responsabilidade..

Segundo a Organização Internacional do trabalho (OIT), em 2018, o número de desempregados no mundo chegou a 200 milhões (quase a população atual do Brasil). Outros estudos sinalizam que cerca de 800 milhões de profissionais poderão perder seus empregos até 2030. Já em pesquisa realizada pelos 300 maiores empregadores do mundo, responsáveis por 13 milhões de empregos no planeta, apresentada como parte do Relatório de 2018 do Fórum Econômico Mundial, havia uma previsão que mais de 7,1 milhões de postos de trabalho seriam perdidos entre 2015 e 2020 e que mais de 2 milhões de novos empregos seriam criados nas áreas de Computação, Matemática, Arquitetura e Engenharia chamando especial atenção para a Revolução Digital.

É natural que cada Revolução Industrial elimine um grande número de empregos. Não há como evitar. Mas, na Indústria 4.0 existe um novo elemento que possibilitará eliminar uma quantidade ainda maior dos atuais postos de trabalho, pois a geração de “máquinas que pensam” e a Inteligência Artificial criam sistemas que executam, na maioria das vezes, mais de uma tarefa eliminando não um, mas vários profissionais de uma única vez.

Assim, em contrapartida, aquela velha história de se trilhar todo um difícil caminho profissional para estar no principal ou mais alto posto de comando, por meio de acirrada competição, não é mais entendida como a forma para se atingir o sucesso ou o poder. Os modelos mentais sobre colaboração em desenvolvimento impedirão que profissionais mantenham disputas entre si e o cultivo do mindset positivo constituirá mentalidade mais que necessária no Mundo 4.0 que já começou, avança e não espera.

Consequentemente, os modelos de Educação do passado, que preparavam competidores (em última análise) não servem mais para este Mundo 4.0 que acabará com diversas profissões hoje existentes e que promoverá um disrupção brutal na forma com a qual se desenvolverão carreiras de profissionais antes estruturadas apenas com foco na competição.

O mundo da colaboração se organiza de forma mais humana mesmo que as tecnologias avancem, pois quando os profissionais cooperam entre si para atingir soluções surgem condições mais adequadas de se trabalhar, atinge-se maior qualificação e uso assertivo da inteligência permitirá somar as expertises dos diferentes profissionais para se multiplicar resultados.

Já há algum tempo é mostrado que a Educação não pode mais ser mantida como em décadas passadas dada a exigência de transformação impostas tanto pelas tecnologias quanto pelos comportamentos disruptivos existentes; os quais obrigam abandonar o estrito modelo da competição para a adoção dos modelos de colaboração que favorecem a todos os envolvidos e não a apenas a minorias. O poder está no amplo compartilhamento, na troca, na cooperação, e não mais numa insana disputa por posições hierarquizadas.

Não se pode mais pensar em formar Profissionais (Engenheiros, principalmente) para um “mundo da competição”, pois o trabalho cada vez mais automatizado e inovador exige que a inteligência humana seja utilizada em redes colaborativas para resolver problemas e atingir resultados e sucesso em tempo cada vez menor e intensidade cada vez mais ampliada.

No caso particular dos Cursos de Engenharia estes deverão focar o desenvolvimento da capacidade de mobilização de conhecimentos fundamentais para a solução de problemas reais efetivos. Em uma Sociedade em constante transformação o Engenheiro deverá ser capaz de criar e desenvolver soluções eficientes e eficazes para esta mesma Sociedade.

Assim, a formação dos Engenheiros, em um mundo colaborativo, inovador, disruptivo, deverá considerar paradigmas como a relação intrínseca entre o aprendizado ativo e as motivações dos futuros profissionais, a formação que privilegie o tipo “mão na massa”, as formas de se implementar o Ensino por Competências e não apenas centrado nos conteúdos, o dilema entre os posicionamentos just-in-time (JIT) e just-in-case (JIC), a necessidade de se aprender a aprender, o aprender em contexto, dentre outros padrões.

Em geral, entretanto, os Cursos Universitários deverão ser reformulados tendo como foco a geração de profissionais que tenham, além de sólida formação em conteúdos técnicos, habilidades comportamentais necessárias para o trabalho em equipe, reconheçam a resiliência, entendam que a disrupção é a condicionante, e percebam que não é mais possível atingir competitividade e sucesso sem a troca ou a cooperação em redes inteligentes para gerar cada vez mais resultados em tempos cada vez menores.

Novos modelos mentais são exigidos para a Educação no Mundo 4.0 de forma que manter aprendizes em “salas de aula”, sentados em cadeiras, enfileiradas umas atrás das outras, assistindo uma autoridade lá na frente, apresentando conhecimentos já disponíveis antes, é muito, muito, estranho atualmente. Ou antes, é incompatível com a transformação que os próprios homens estão processando velozmente no mundo presente.

O Mundo 4.0 exige uma Educação 4.0 focada em colaboração, resiliência, novos modelos mentais e desenvolvimento da inteligência coletiva.

Carlos Magno Corrêa Dias é conselheiro efetivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI), líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC), coordenador do Núcleo de Instituições de Ensino Superior do CPCE do Sistema Fiep, personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep).

 

Adicionar comentário


logoMobile