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A tecnologia digital está tomando espaço na construção civil e tirando projetos das pranchetas para grandes e mais completos modelos criados em três dimensões. É o caso do Building Information Modeling (BIM) ou modelagem da informação da construção, processo que possibilita representação virtual de características de uma edificação, ou qualquer construção, por todo o seu ciclo de vida.

A coordenadora dos cursos de pós-graduação em Master BIM Especialista e de extensão Fundamentos do BIM do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec) – instituição mantida com apoio da FNE -- , Regina Coeli Ruschel, conta que o BIM foi desenvolvido em meados dos anos 1980 com o intuito de proporcionar maior consistência e precisão na representação. “E é um dos maiores benefícios, pois projetamos em 3D com informações e especificações, assim temos uma documentação exata”, afirma.

Além do projeto, o BIM auxilia na gestão da obra, através de plataformas como a Maleta do Engenheiro, desenvolvida pelo Laboratório de Engenharia BIM (Leb), em Goiânia (GO). “Disponibilizamos a conectividade em nuvem para centralização de informações dos projetos BIM”, explica o engenheiro civil CEO do Leb, Romeu Neto. Essa forma de armazenagem é um dos conceitos presentes no modelo BIM, a compatibilidade.

Assim, o projeto é feito simultaneamente por todos os profissionais envolvidos no trabalho. “Se no desenho uma viga entra em conflito com um cano, rapidamente as áreas perceberão o equívoco e trabalharão na solução”, exemplifica a coordenadora técnica de cursos de extensão do Isitec, arquiteta Meire Garcia. Ela ressalta que um dos grandes ganhos com o BIM é a possibilidade de “ensaiar” a obra, simulando materiais através de informações, incluídas no modelo. “Uma parede já terá dados sobre o material a ser usado, como tipo de tijolo, tintura, sistemas hidráulicos e elétricos”, conta.

No entanto, Ruschel salienta que para o processo BIM ser aproveitado da melhor forma, é preciso conhecimento. “Não é porque ele traz tantos benefícios que é mais fácil de usar. É mais difícil, requer mais esforço. Essa talvez seja a maior barreira na implantação”, frisa. Pior anda, ressalta o professor Eduardo Toledo Santos, do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), é a “concepção errada do que seja exatamente o BIM”.

Segundo Toledo, ainda há a visão de que, para implantá-lo, só é preciso uma licença do software e um computador, e “não há nada mais errado do que isso”. O especialista afirma que para ter um BIM bem feito é necessário planejamento. “BIM é um processo, portanto, é preciso um consultor, profissionais experientes, preparação. Um CAD malfeito é só um CAD, mas um BIM malfeito é prejuízo”, alerta o engenheiro, comparando à forma usual em que são feitos projetos de construção.

Transparência

Se bem feito, o BIM é um forte aliado para cumprir tempo estimado e valor orçado, afirma Toledo. “Um orçamento extraído de um modelo BIM tem muito menos espaço para aditivos. Pelo banco de informações e nível de detalhamento do modelo criado, o BIM traz transparência ao projeto”, defende.

“Essa não é sua função, mas ele acaba auxiliando a evitar desvios por conter todas as informações integradas e registradas. É muito difícil alterar valores numa obra sem mexer no modelo”, concorda Garcia. Na mesma linha de raciocínio, a diretora BIM da Sippro, que atua com implantação do modelo em Fortaleza (CE), Paula Pontes Mota, aponta que toda alteração de projeto e de quantitativos é facilmente detectada no processo, o que “protege a obra de desvios e, enfim, da corrupção”. Para ela, o BIM resgata um hábito perdido no tempo, “o de focar o planejamento e desenvolvimento dos projetos antes de se construir”.

Não obstante, o engenheiro civil especialista em BIM Wilton Catelani, acredita que há muito mais a mudar do que apenas a forma de projetar para evitar desvios. “Muitos se aproveitam de projetos malfeitos para se acrescentar aditivos sim, e o BIM diminui a margem para isso. Mas a forma como se contratam, os pagamentos e favorecimentos são o que sempre dará abertura para distorções”, critica.

BIM no Brasil

A modelagem de informação na construção ficou popular no País na primeira década dos anos 2000. Catelani é coordenador da Comissão de Estudo Especial 134 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), criada em 2009 e que está desenvolvendo a primeira norma BIM no País, a NBR 15.965. Essa delega um sistema de classificação de informações que padroniza nacionalmente termos para softwares usados no BIM. O trabalho tem como base a ISO 1.206/2 (International Organization for Standardization – Organização Internacional para Normalização) e já teve quatro de sete partes publicadas.

Em dezembro de 2016, o Brasil assinou um memorando com o Reino Unido, polo de desenvolvimento do BIM, para aplicação da tecnologia em obras públicas e, em julho último, foi criado um comitê estratégico da tecnologia de modelagem, liderado pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) com representações de diversos órgãos e instituições da área.

No Metrô de São Paulo o BIM é pedido em licitações de projetos básicos. Segundo o supervisor II e líder do projeto de inovação BIM da empresa, Ivo Mainardi, o objetivo é implantar a tecnologia em todas as obras da companhia. Para ele, BIM é sinônimo de projeto confiável: “Hoje temos muitos documentos diferentes, diversos papéis. Com o BIM, todas as informações estão conectadas a uma modelagem segura.”

 

 

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