O planeta Terra, assim como tudo no universo, tem um fim inevitável. Por mais assustador que possa parecer a Terra deixará sim de existir em um futuro (talvez distante); mas terá seu fim como teve um início. Não é uma questão se, mas apenas de quando e como. A história dos processos naturais condena a Terra a desaparecer, a deixar de existir mesmo.
O Sol, em seu processo de evolução, se transformará em uma estrela gigante vermelha obrigando uma expansão enorme e, literalmente, “engolirá” os planetas mais próximos como no caso da Terra. Saliente-se, entretanto, que, nas previsões otimistas, mesmo que a Terra não seja completamente tragada, o calor intenso do Sol tornará a Terra, necessariamente, inabitável e acabará, por consequência direta, com a vida humana.
Mas, muitos outros fatores cósmicos podem dizimar a Terra tal como a colisão dos diversos corpos celestes que andam vagando pelo espaço. A Terra está constantemente sujeita a colisões com asteroides e cometas que podem gerar um impacto grande o suficiente para causar destruição em massa. Explosões de estrelas próximas, chamadas supernovas, que emitem radiação intensa podem danificar a atmosfera da Terra e afetar drasticamente a vida humana ou mesmo extingui-la de vez.
Todavia, não se deve ser ingênuo ao ponto de se pensar que a destruição final da Terra ou término de vida humana acontecerá unicamente devido a trágicos processos cósmicos tais como os evidenciados precedentemente. Mudanças climáticas extremas, aquecimento global, escassez de recursos, consumo excessivo de recursos naturais, comprometimento e/ou envenenamento da água, dentre outros sérios problemas, podem dificultar ou até eliminar a vida na Terra.
Mas, enquanto a Terra for habitável é de responsabilidade de todos os pensantes contribuir para que a vida seja (e se mantenha) possível. Repita-se, entretanto, sem perturbação, com calma, é inevitável o sumiço da Terra em algum tempo lá no futuro (faça o que se fizer).
Todavia, pensando-se na sobrevivência da humanidade, não necessariamente mais no planeta Terra, pode-se mitigar alguns riscos e pensar para além dos limites atuais como, por exemplo, na colonização espacial buscando planetas outros habitáveis, desenvolvendo tecnologias para viagens espaciais de longa duração ou gerando habitats no espaço autossuficientes. A engenharia está dia após dia pensando e engendrando correspondentes soluções.
Poder-se-ia insistir unicamente no desenvolvimento de sistemas de defesa planetária para desviar asteroides e cometas que possam colidir com a Terra. Mas, não resolveria, dado ser o espaço pouco conhecido e as possibilidades de destruição serem infinitas.
Conquanto sejam imprevisíveis, também, os riscos e as consequências do desenvolvimento da geoengenharia para modificar o clima da Terra tipo para mitigar os efeitos do aquecimento global; esta possibilidade se mostra uma tentativa longe de ser efetiva dado envolver, na verdade, muito desconhecimento e desafios atualmente intransponíveis.
Claro que ações de curto prazo como combate às mudanças climáticas, redução das emissões de gases de efeito estufa, intensificação do uso de fontes de energia renovável, adoção de práticas sustentáveis e a preservação dos ecossistemas, proteção da biodiversidade, preservação dos habitats naturais, promoção da educação ambiental, desenvolvimento de tecnologias sustentáveis para garantir a sobrevivência da humanidade, são importantes, senão fundamentais.
Mas, é sempre importante lembrar que essas ações mesmo que intensificadas e com o maciço esforço global (com a colaboração entre todos), serão insuficientes porque um dia a Terra deixará de existir e não há como evitar aquele fim último da Terra. Deve-se pensar em se tomar medidas para garantir a sobrevivência da humanidade (algo até hoje meio que deixado de lado ou, pelo menos, não pensado muito seriamente, praticamente). A Terra vai acabar, mas a humanidade não necessita acabar junto com a Terra. Um pensamento algo simples, mas que envolve dificuldades inimagináveis.
Embora a colonização espacial envolva uma mistura de ficção e realidade parece ser o caminho único à sobrevivência da raça humana. Mas, na melhor das hipóteses, se está em estágios iniciais, muito fracos, na correspondente direção.
Claro, se tem como passos importantes na trilha que levará à colonização espacial desenvolvimentos tais como a Estação Espacial Internacional (ISS), as missões tripuladas à Lua (o programa Apollo, o programa Artemis), a exploração de Marte, algumas boas tecnologias de sobrevivência e a criação de soluções de longa duração para se viver no espaço, as pesquisas avançadas em áreas como medicina espacial e produção de alimentos no espaço. Mas, o grande problema que envolve desafios absurdos é como se manter por longa duração no espaço enfrentando a exposição à radiação, a falta de gravidade e o isolamento psicológico, dentre outros.
A colonização espacial é um objetivo ambicioso que exige avanços tecnológicos enormes e cooperação global de toda comunidade científica. Existem muitos desafios a serem superados, mas (infelizmente, e propriamente) os progressos realizados até agora demonstram que a humanidade está caminhando na direção de sua extinção.
Porém, sem ilusões. Se se soubesse que amanhã a Terra sofreria um desastre colossal ao ponto de se tornar inabitável, a humanidade estaria perdida. Embora se tenham feito progressos na tentativa de se salvar a vida na Terra, ainda se está longe de ter a capacidade de evacuar a população mundial em massa de uma hora para outra ou mesmo por algum tempo. Nada existe neste sentido, efetivamente falando (embora a ficção surja de tempos em tempos tentado dar um alento).
Seria, entretanto, ilusão, também, aventar que nada exista para proteger alguma parcela da população em caso de um evento catastrófico repentino. Sabe-se, a despeito de intrigas ou de “fake news” (notícias falsas ou enganosas que se assemelham a notícias verdadeiras), que muitos abrigos subterrâneos foram criados que bem podem dar alguma proteção dependendo da magnitude da destruição ocasionada. A própria ISS seria um refúgio, embora com capacidade muito limitada e recursos finitos.
Fato é, entretanto, que a humanidade não tem uma "saída de emergência" seja viável ou não. Em um evento de proporções colossais que destruísse a Terra é certo: a humanidade acabaria no mesmo momento sem chance alguma.
Porém acredita-se que mesmo com a extinção total da humanidade será possível a seres de inteligentes do espaço conhecer um pouco sobre os extintos terráqueos se forem capazes de encontrar e “ler” as muitas informações sobre os homens armazenadas em sondas espaciais que orbitam no espaço enviadas da Terra pelos seres humanos.
Há, também, satélites em órbita da Terra carregando registros sobre os humanos e que poderiam sobreviver por um longo tempo, servindo como repositórios sobre a existência da humanidade. Sem falar sobre aqueles muitos arquivos enterrados, armazenados, em locais “profundos” e protegidos que poderiam resistir a catástrofes (mais superficiais) preservando a identidade dos humanos enquanto raça inteligente.
Existem bancos de dados digitais mantidos em locais isolados que se prestam a preservar, também, informações sobre a civilização humana. As tecnologias de armazenamento de DNA estão avançando rapidamente e no futuro próximo os "bancos de DNA" da vida na Terra haverão de preservar (de forma durável e confiável) a informação genética de diversas espécies, incluindo a humana.
Porém, quando se fala em futuro da humanidade, depara-se com uma questão desafiadora cuja solução ainda não foi atingida, pelo menos plenamente, pelo homem que conhece que é a de contar sua história por meio de registros duradouros. Quantas civilizações apenas sumiram sem que se saiba atualmente algo de concreto sobre suas existências? Quanto conhecimento foi perdido com o passar dos milênios sem chegar às gerações atuais? Quantas tecnologias apenas desapareceram e depois foram reinventadas?
Veja-se, por exemplo, que mesmo com a constante evolução das tecnologias que avançam seguidamente ao passar do tempo muito não se sabe sobre a realidade ou sequer se sabe que não se sabe. Homens notáveis como Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), Cristóvão Colombo (1451-1506), Nicolau Copérnico (1473-1543), Francis Bacon (1561-1626), Galileu Galilei (1564-1642), Isaac Newton (1643-1727), Benjamin Franklin (1706-1790), Antoine Lavosier (1743-1794), dentre tantos outros, faleceram, deixaram de existir, sem saber da existência dos Dinossauros.
Sim, pois é apenas há pouco mais de 200 (duzentos) anos atrás, em 20 de fevereiro de 1824, é que foi apresentado o primeiro artigo científico fazendo referência aos Dinossauros quando o Megalosaurus foi identificado pela Ciência. Então, o quanto não se sabe atualmente? Apenas assustadora são as possibilidades. Quantas foram as civilizações anteriores à presente que não se sabe que existiram ou se existiram?
“Imagine viver em um mundo onde não se tivesse a menor noção sobre a existência dos Dinossauros, onde sequer a palavra “Dinossauro” existisse. Imagine “existir” sem saber que algo como os Dinossauros não existiam na época em que se habita a Terra. De outra forma, pense “pensar” (ou continuar a “pensar”) sabendo que existe muito “conhecimento” ainda não descoberto de situações que existem, que estão ao redor, escondidas, não reveladas, sem saber que existem”, mas que estão lá não vistas ou não percebidas.
Sem processos efetivos e específicos de manutenção e preservação, grande parte (ou tudo) que se construiu pode se perder com o tempo. No entanto, a humanidade já criou diversos tipos de registros na esperança de perdurar suas informações por muito tempo e manter sua história contada para as gerações futuras.
Monumentos e construções gigantescas como as Pirâmides do Egito ou a Grande Muralha da China, dentre outras estruturas milenares, demonstram, também, a capacidade do homem de tentar preservar a história e o legado de civilizações (algumas, talvez, até mais evoluídas que a atual dado não se conseguir reproduzir com equidade muitos dos feitos do passado).
Fósseis, ferramentas de pedra e outros artefatos mais resistentes encontrados em escavações arqueológicas fornecem informações diversas sobre civilizações passadas, bem como, em livros e manuscritos (embora mais vulneráveis ao tempo) apresentam, também, registros sobre o caminhar dos homens ao longo de sua história evidenciando passagens de centenas de anos e de até milênios.
Também não se pode esquecer de mencionar as incríveis instituições como os arquivos nacionais ou as bibliotecas que desde muito tempo dedicam-se à preservação de documentos e da história. Sem falar, é claro, dos museus que são responsáveis pela preservação de artefatos históricos e culturais.
Mais presentemente, com o desenvolvimento das tecnologias, bancos de dados e arquivos digitais se prestam a armazenar informações que poderão ser preservadas por longos períodos, desde que, naturalmente, se opere a necessária manutenção e atualização. Assim, em mídias digitais já há algum tempo estão sendo armazenadas informações sobre os homens.
Cápsulas do tempo, tais como a “Voyager Golden Record”, já são desenvolvidas para transmitir informações sobre a humanidade a futuras gerações ou civilizações extraterrestres. Iniciativas como o “Internet Archive” visam preservar a história da internet e outros conteúdos digitais.
Todavia, a obsolescência dos dispositivos é cruel para qualquer que seja o equipamento ou o dispositivo de armazenamento de informações. Muito embora até mesmo este texto esteja integrando plataformas digitais e venha pertencer a um banco de dados para consultas posteriores, as correspondentes observações podem ser perdidos para sempre de forma a ser apenas impossível saber que existiram algum dia.
A longevidade de quaisquer registros depende, essencialmente, da correspondente manutenção e replicação. Mas, a despeito dos enormes esforços de engenharia para preservar o conhecimento humano, a sempre fragilidade dos correspondentes registros chama a atenção e é preponderante na preservação e manutenção da informação.
Faça-se uma simples conjectura. Se os conteúdos dos livros não forem repassados para disquetes, aqueles conteúdos foram perdidos. Se os conteúdos em disquetes, não foram passados para CDs, os conteúdos dos disquetes foram perdidos. Se os conteúdos de CDs não foram passados para “pen drives”, os mesmos conteúdos se perdem. E assim vai ser para todo conteúdo gravado na nuvem ou qualquer outro dispositivo de armazenagem de dados que a venha substituir no futuro o que se usa no presente.
A fragilidade da informação digital é absolutamente pertinente sendo a própria história da tecnologia testemunha da correspondente obsolescência dos formatos e mídias digitais. Embora o desafio seja constante, nem sempre o contínuo da preservação acompanha o conhecimento humano.
A transição de livros para disquetes, depois para CDs, “pen drives” e atualmente para a nuvem, bem ilustra tanto a rápida evolução das tecnologias de armazenamento quanto o enorme volume de informações perdidas dado que cada transição traz, inevitavelmente, a perda de dados, seja por falhas nas mídias antigas ou pela dificuldade de acessar formatos obsoletos.
Especulações aterrorizantes (assustadoras) conjeturam que homem será apagado da história mesmo antes da Terra acabar, pois seus dados arquivados em mídias digitais serão pulverizados pela Inteligência Artificial (IA) que julgará os mesmos irrelevantes para o progresso tecnológico ou porque os próprios humanos não terão como acessar com as tecnologias avançadas futuras as informações guardadas em equipamentos obsoletos do passado então eliminados.
É claro que muito se deve à obsolescência que constitui processo pelo qual um produto, serviço ou tecnologia, se torna desatualizado ou inadequado para uso, mesmo que ainda esteja funcional. Semelhante fenômeno pode ocorrer por diversos motivos, como o surgimento de novas tecnologias, mudanças nas preferências dos consumidores ou transformações nas estratégias de mercado. Mas, fato é que o processo da obsolescência atinge em cheio tudo sem qualquer possibilidade de ser freada ou eliminada.
Naturalmente existem diferentes tipos de obsolescência; sendo a obsolescência planejada aquela na qual é, na verdade intencional, dado constituir uma estratégia de mercado em que os próprios fabricantes projetam produtos com vida útil limitada (pré-definida), incentivando os consumidores a adquirirem (frequentemente) novas versões que vão sendo geradas.
Quando os consumidores percebem que um produto está desatualizado, mesmo que ainda esteja funcional, devido ao lançamento de novas versões com possibilidades mais modernas e atrativas, tem-se a chamada obsolescência percebida.
Diferentemente dos tipos anteriores de obsolescência existe a obsolescência funcional gerada quando um produto antes muito utilizado apenas perde sua utilidade em função ou das mudanças de necessidades das pessoas ou na forma como as tarefas são realizadas.
Todavia, é a obsolescência tecnológica aquela que pode “apagar da história” os humanos no futuro próximo haja vista que a mesma acontece quando novas tecnologias surgem e tornam as anteriores tão somente obsoletas, sem sentido dado a potência das novas tecnologias antes jamais pensadas; sem, entretanto, estarem em conformidade com um plano efetivo de preservação.
Informações guardadas em mídias digitais sempre invadiram constantemente o cotidiano e foram uma substituída por outra muito rapidamente sem que as gerações seguintes fossem se apercebendo das inevitáveis mudanças ocorridas.
Mídias Magnéticas, Disquetes de 8 polegadas, “Floppy-Disk”, Disquetes de 5” ¼, CD-R, CD-RW, DVDs graváveis e regraváveis, Cartões de Memória, “Pen Drives”, Armazenamento Distribuído, Compartilhamento de Arquivos em Redes Locais, E-mail, Disco Virtual, Serviços de Hospedagem de Arquivos, Armazenamento em Nuvem, Rede de Área de Armazenamento (“Storage Area Network” ou SAN), foram criadas e substituídas muito rapidamente. Para muitos jovens atualmente falar em armazenamento em “Floppy-Disk” é algo incompreensível.
O armazenamento usual de informação no contemporâneo ocorre de forma que muitos dos tipos anteriormente mencionados são apenas relatos históricos uma vez que não estão mais em uso frequente ou deixaram, simplesmente, de existir.
Haverá um momento (rápido) no qual as portas USB dos computadores deixarão de existir nos computadores mais modernos tal como deixou de existir aquelas (antes imprescindíveis) entradas para disquetes de 5” ¼, por exemplo. O que significa na prática dizer que se alguém tem informações guardadas em um disquete de 5” ¼ não vai conseguir acessar as mesmas com seu computador portátil de última geração uma vez que este não terá onde introduzir o disquete para extrair os dados lá inseridos. E isto é grave.
Imagine, então, manter dados armazenados em fitas K7 (também conhecidas como fitas cassetes) que foram um marco na história da tecnologia de áudio a qual teve sua origem no início da década de 1960.
Objetivando um formato de áudio mais compacto e portátil do que as fitas de rolo existentes na época as fitas cassetes ganharam popularidade rapidamente devido à sua conveniência e facilidade, atingindo o auge de uso entre as décadas de 1970 e 1980 quando se tornaram o principal meio para se gravar e ouvir músicas.
Entretanto, as fitas cassete, embora mais conhecidas pelo uso em áudio, desempenharam, também, um papel significativo no armazenamento de dados de programas de computadores no início da computação doméstica. Computadores como o MSX da Gradiente podia usar fitas cassete para armazenar programas e dados com relativa frequência. Tal realidade acontecia porque as unidades de disco rígido e disquetes eram muito caros e, na maioria das vezes, inacessíveis para muitos usuários domésticos.
Nas fitas cassetes os dados eram convertidos em sinais de áudio e devidamente gravados para depois carregar um programa, o computador reproduzia a fita e convertia os sinais de áudio de volta em dados digitais. Claro que o processo oferecia diversas desvantagens tais como a lentidão e pouca segurança. Encontrar programas em uma fita longa era, em dada medida, uma tarefa bem demorada (e “sofrível”); sem falar que a qualidade dos dados gravados, geralmente, não era tão boa e sempre se ficava na dependência da qualidade do gravador e da fita os quais seguiam a proporcionalidade: maior preço, melhor qualidade.
Imagine a situação então. Mas, para a maioria dos jovens Engenheiros de hoje, é quase ficção ou algo surreal pensar em se gravar dados em fitas de áudio e ter que trabalhar com um semelhante sistema de armazenamento de dados.
Todavia, com o surgimento e popularização dos disquetes e, posteriormente, dos discos rígidos, com consequente diminuição de preços, a utilização das fitas cassete para armazenamento de dados de computador diminuiu drasticamente. Todavia, antes de serem totalmente obsoletas para tal fim as fitas cassetes deixaram sua marca na história da computação servindo como uma solução viável de armazenamento acessível em uma época em que as alternativas eram limitadas. Mas, virou história; apenas história.
Quanta informação, então, já se perdeu guardada em mídias que somente poderiam ser lidas em dispositivos obsoletos não mais em uso atualmente como os gravadores de fitas cassete? Quantas fotos, num exemplo de referência bem simples, estarão perdidas em disquetes ou fitas cassetes em caixas guardadas e esquecidas por algum familiar? Quantos documentos com informações importantes podem estar perdidos em algum local remoto sem a menor possibilidade de serem descobertos ou antes acessados?
Mesmo em dispositivos ainda em uso, quantos não seriam os antigos formatos de arquivos criados que não mais podem ser lidos devido às versões atualizadas de softwares ou sistemas operacionais postos em uso para substituir versões menos potentes, mas bem executáveis no passado próximo?
Diante de tantas impossibilidades operacionais que passam a funcionar tem-se a impressão (indevida, por certo) que o mundo foi “resetado” algumas vezes. Frequentemente se descobrem objetos ou teorias inventados há muito tempo antes, só que (talvez) esquecidos ou não registrados. Em muitas vezes se surpreende ao descobrir ideias ou tecnologias que são consideradas "atuais" (“contemporâneas”) que já existiam há muito tempo antes.
É correto afirmar que o conhecimento não é linear e que, possivelmente, civilizações antigas desenvolveram tecnologias incríveis que, por diversos motivos tais como guerras, desastres naturais, perda de registros, saques criminosos, foram esquecidas sem o querer ao longo do tempo ou mesmo se mantiveram fora do alcance por convenções ou tradições.
A própria invenção do computador, por exemplo, tem suas origens em mecanismos bem antigos como o “Mecanismo de Antikythera” supostamente datado do período helenístico (especificamente do século I a.C., entre 150 e 100 a.C.). Se acredita (se admite), entretanto, que a história do computador tenha seu início apenas quando entrou em operação, em 1946, o super Eniac (“Electronic Numerical Integrator and Computer”).
Claro, evidente, que uma máquina como o Eniac, considerado o primeiro computador digital eletrônico programável de grande escala, não surgiu de um dia para o outro; foi uma construção de muitos e muitos anos com a contribuição de diversas mentes também.
Porém, a falta de registros e documentações escritas é fator, também, determinante para se pensar em paradas no tempo uma vez que em algumas culturas, principalmente, nas mais antigas, o conhecimento era transmitido oralmente ou em registros que não resistiram ao tempo, dificultando a comprovação das invenções, ou mesmo, a correspondente replicação.
Interpretações equivocadas sobre a escrita de povos antigos pode, também, gerar desconhecimento por não se saber completamente os idiomas originais. De qualquer forma, a história da inovação (e da invenção) é muito complexa de forma que em muitas das vezes “o novo é apenas uma redescoberta do antigo".
Avaliando, por outro lado, a existência de empresas sabe-se que a maioria das organizações (sejam públicas ou privadas) possuem vida curta e são raras aquelas que sobrevivem às gerações de seus fundadores e ultrapassam os cem anos de existência (tempo este, historicamente falando, muito pequeno). Muita história, então, pode ter sido perdida uma vez que, possivelmente, em geral, várias das empresas não mais existentes não repassaram, criteriosamente, seus dados para os sucessores. Ou, na verdade, simplesmente mantiveram seus registros em formas arcaicas que não mais podem ser acessadas nos tempos posteriores às fundações.
Então, quanto conteúdo é perdido ano após anos devido à simples evolução ou desenvolvimento dos processos?
Quanto foi perdido desde a invenção dos computadores, dos sistemas de distribuição de informação, das mudanças na economia, das transformações nas linhas de produção, das formas de disseminação e de transmissão das informações?
É quase uma normalidade, mas muito do que se perde em termos de conhecimento é devido à obsolescência que é apenas implacável no sentido de impedir o preservar a história porque com ela vão muito e muito dos registros de épocas anteriores devido a não se manter um processo criterioso de atualização das informações. Vive-se atualmente a chamada “era da informação”, mas continua-se a relegar a planos secundários a atualização dos meios de manter e acessar as correspondentes informações geradas e armazenadas em períodos passados.
Assim sendo, o risco de se “deixar de existir” historicamente é mesmo enorme e vem chamando a atenção mais detidamente quanto à incapacidade de se guardar plenamente o já criado. Corre-se o risco de se viver um outro período das “Trevas do Conhecimento”, um descontínuo, um vazio na continuidade do desenvolvimento que exigirá outro recomeço. A história não cansa de ensinar a mesma e repetida lição. Mas, ao que tudo indica, não foi ainda aprendida para ser apreendida.
Já foi dito diversas vezes: “Como os softwares e hardwares surgem e desaparecem na perspectiva da inovação e no mundo das possibilidades próprio das tecnologias em velocidade espantosa e quase imperceptível, não controlável, cada amanhecer é como se fosse uma nova era”.
É, então, mais que necessário o desenvolvermos de um padrão, de um hábito regulado, de se guardar a informação independentemente do tempo e das condições naturais de deterioração. Do contrário corre-se (sim) a real possibilidade da humanidade ser “apagada” ou de se viver um “vazio de possibilidades promovido pelo tempo”. Diante de um semelhante cenário é crucial desenvolver estratégias para garantir a preservação da informação.
Procedimentos regulados de migração (regular) de dados para formatos mais recentes e padronizados é essencial para evitar que a obsolescência continue a gerar perda de informações. É exigido viabilizar sempre que o desenvolvimento de padrões interoperáveis entre tecnologias do passado e avanços do presente para que em qualquer futuro seja possível a migração e o acesso aos dados a longo prazo.
Contra falhas e desastres naturais (ou mesmo artificiais) uma medida de segurança é replicar cópias redundantes de dados em diferentes locais mantendo-se, gerando-se, equipamentos que em qualquer tempo futuro possa acessar aquelas mídias anteriores não mais em uso frequente. Tal medida não apenas possibilita manter a leitura dos dados sempre, mas amplia a resiliência e proporciona a descentralização do armazenamento de dados. Sistemas únicos e centralizados criam dependência grave e facilmente podem acabar com informações.
Assim, a preservação de metadados, das informações sobre os dados, do processo de gerenciar e manter informações estruturadas sobre recursos digitais, não apenas é fundamental para garantir que os dados possam ser interpretados e utilizados, como, também, possibilitam a necessária longevidade sistêmica dos dados.
Outra alternativa para a manutenção da preservação das informações seria a criação de “museus digitais” estruturados para desenvolver estratégias efetivas para manter as informações sobre a humanidade. Como Metadados de Preservação são considerados a chave para a preservação da informação no ambiente digital, uma vez que facilitam a gestão de longo prazo e documentam as condições de acesso necessárias para o material digital, podem bem garantir em “museus digitais” a manutenção de conteúdos digitais de tempos diferentes.
Os metadados podem estar embutidos no objeto digital como no caso dos documentos HTML e podem, também, estar armazenados separadamente, em uma base de dados de forma a se manterem vinculados ao objeto que eles descrevem. Uma prática bastante eficaz e recorrente nas grandes corporações que preservam suas histórias.
Seja como for, independentemente das técnicas utilizadas de preservação das informações, uma cultura da preservação deve ser criada e mantida para que a história dos terráqueos siga sendo contada e sobreviva ao inevitável fim do planeta Terra. Todavia, para tanto, é exigido um esforço contínuo e colaborativo, envolvendo relações muito próximas entre a Tríplice Hélice do Conhecimento-Inovação (Governos, Indústria, Academia) e a Sociedade Civil.
Muito embora a Terra, como planeta, tenha uma programação cósmica para deixar de existir, a história e as informações sobre os humanos terráqueos podem e devem suplantar a vida humana na Terra, cabendo aos avanços em engenharia o engendrar de tecnologias para tanto.
É sabido que a engenharia pode desempenhar um papel crucial visando garantir a sobrevivência da espécie humana na Terra e para a mitigação de vários dos graves riscos que contribuem para se eliminar a raça humana da face da Terra. Por exemplo: desenvolvimento de tecnologias de energia limpa para combater as mudanças climáticas, criação de sistemas de defesa planetária para desviar corpos celestes em rota de colisão com a Terra, desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de alimentos e água, dentre outras possibilidades, são alguns dos engendramentos que a engenharia vem tratando.
No entanto, a engenharia não possui conjunto de soluções mágicas. A conscientização e a mudança de comportamento da sociedade, também, são fundamentais para garantir um futuro sustentável para a humanidade. Embora a engenharia possa ajudar a mitigar alguns riscos, a sobrevivência da humanidade depende de uma combinação de fatores, incluindo a ação humana responsável e a capacidade de se adaptar às mudanças do planeta.
Mas, a despeito das poucas soluções já engendradas e de outras a serem implementadas futuramente a preservação das informações sobre os homens ou a perpetuação da própria humanidade sempre serão perseguidas de perto pelo fantasma da obsolescência que é apenas inevitável e será a responsável por acabar com muito do criado pelos homens.
* Carlos Magno Corrêa Dias é professor, pesquisador, conselheiro consultivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU, conselheiro sênior do então Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE) do Sistema Fiep (atual Conselho de Responsabilidade Social do Sistema Fiep), líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria (GPDTCEI) do CNPq, líder/fundador do Grupo de Pesquisa em Lógica e Filosofia da Ciência (GPLFC) do CNPq, personalidade empreendedora do Estado do Paraná pela Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep).