Haverá falta de engenheiros e técnicos para suprir a demandas das empresas da Região Metropolitana do Vale do Paraíba pelos próximos dois anos.
O problema já vem sendo detectado por companhias na região que enfrentam dificuldades para encontrar profissionais qualificados no mercado. Com isso, sobram vagas nas corporações.
Não há números regionais sobre a situação. Mas estimativas feitas pelo Senai e pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) apontam que o Brasil vai precisar formar 150 mil engenheiros e 7,2 milhões de técnicos até 2015, se não quiser perder competitividade.
Do total de técnicos, informou o Senai, 6,1 milhões já estão no mercado de trabalho, mas precisam continuar a se capacitar e qualificar.
“Temos 42 vagas abertas em todos os níveis e estamos com dificuldade para encontrar os profissionais”, afirma Henrique Weeck, gerente de Desenvolvimento Humano e Organizacional da unidade da Fibria em Jacareí.
Parcerias
Segundo ele, por se tratar de uma empresa de produção de celulose, cuja mão de obra não está disponível facilmente no mercado, a Fibria fez uma parceria, em 2000, com a Universidade Federal de Viçosa (MG) para capacitar seus quadros.
Essa tem sido uma das saídas encontradas pelas empresas para driblar a falta de pessoal qualificado.
O engenheiro aeroespacial Humberto Consolo Holanda, 23 anos, levou em conta os programas de qualificação oferecidos pela Mectron, de São José, para aceitar a proposta de emprego.
Formado no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) no ano passado, ele começou na empresa em janeiro para trabalhar com o desenvolvimento de projetos.
“O estímulo de crescer na organização, por meio de programas de qualificação, me fez aceitar o desafio da empresa”, diz Holanda.
Parceria com universidades é nova aposta
Empresas da Região Metropolitana do Vale do Paraíba estão recorrendo a parcerias e programas internos de qualificação para preparar os profissionais de seus quadros.
Esta tem sido uma saída encontrada pelas companhias para atrair, reforçar e reter mão de obra qualificada.
Parte da Organização Odebrecht desde 2011, a Mectron passou a oferecer aos seus funcionários programas de formação dentro da própria estrutura organizacional.
É o caso, por exemplo, do 'Jovem Parceiro’, programa de trainees cujo objetivo é encontrar e integrar jovens que se identifiquem com valores da Organização Odebrecht e queiram fazer carreira nas empresas do grupo.
Milos Fonseca, gerente de Marketing da Mectron, que tem sede em São José dos Campos, explica que a empresa tem aumentado o número de funcionários com o incentivo à qualificação.
“Precisamos de profissionais que saibam trabalhar com ambientes cada vez mais tecnológicos e desafiadores.”
Crescimento
Andréa Vernacci, gerente de Educação Corporativa e Atração da Natura, conta que a empresa investe em programas, como o 'Minhas Escolhas’, para aumentar as oportunidades de crescimento dos profissionais contratados.
“Flexibilizamos o processo, ampliamos a visibilidade das vagas para os colaboradores e criamos um comitê dedicado a avaliar candidatos internos e externos e seu alinhamento aos valores e propósitos da Natura”, diz ela.
O resultado prático dessa postura, segundo Andréa, tem sido uma melhora substancial no aproveitamento interno dos funcionários no Brasil, que saltou de 36% para 70% em 2011 e 72%, em 2012. “Mais do capacitar, a Natura quer formar pessoas para a vida”.
Entrevista com Luiz F. Torres, diretor de DHO da Fibria
As empresas estão enfrentando dificuldade para contratar profissionais qualificados?
Há uma deficiência crônica de mão de obra no país, o que me entristece muito, pois sempre estudei em escolas públicas e tenho visto a queda da qualidade na formação nas últimas décadas. As empresas acabam tendo que suprir essa deficiência com programas internos ou parcerias com instituições de ensino.
No caso da Fibria e de companhias que trabalham com tecnologia de ponta, esse problema ainda é mais evidente?
Sempre buscamos pessoal qualificado em razão de termos, como outras empresas, abrangência internacional. Precisamos de tecnologias muito avançadas e, para o negócio ser eficiente, é necessário a qualificação e a excelência na operação. Mas não é nada fácil suprir essa demanda.
O Vale do Paraíba é considerado um polo tecnológico e industrial. Também aqui essa qualificação está escassa?
Sim, as empresas na região estão com dificuldades para contratar. A concorrência por bons profissionais é grande na região. Isso gera uma disputa no mercado por bons profissionais, que acabam sendo mais valorizados.
Como atrair essa mão de obra qualificada?
A qualificação é essencial para a indústria encontrar mercado. Por isso, o investimento nessa área feito pelas empresas não é pouco. Na Fibria, apostamos em programas internos de qualificação, parcerias com instituições de ensino e na busca por pesquisa e desenvolvimento de ponta que motivem os profissionais a ponto de permanecerem na empresa por um bom tempo.
As escolas técnicas e a universidade estão distantes do setor industrial?
O problema nessa área persiste. A academia, de um modo geral, ainda está muito longe da indústria. Para mim, a competitividade do setor industrial passa por três pontos: tributário, logístico e educacional. Não penso a indústria brasileira se deixarmos de lado um destes pontos. Dá para aprimorar muito o que se faz na educação, seja técnica ou superior.
Fonte: Rede Bom Dia