A novidade foi destaque na imprensa no último final de semana. Pela primeira vez na história do ensino superior brasileiro, o número de calouros em engenharia superou o de direito. A área agora só fica atrás de administração. Os dados foram levantados pelo Ministério da Educação, a partir dos seus censos. De acordo com o jornal Folha de S, Paulo, o aumento do interesse pela engenharia acontece num momento de deficit de profissionais na área, iniciado na década passada.
O jornal destaca que, em 2006, foram 95 mil ingressantes em engenharia (5% do total) e que cinco anos depois, eram 227 mil (10%). "Cresceram tanto o número de vagas públicas e privadas quanto o de candidatos. Já a quantidade de calouros em direito recuou 4%.", explica o jornal
Foi no ano de 2006, que a FNE lançou o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, como uma contribuição da categoria a um plano nacional de desenvolvimento sustentável com inclusão social. Apontava-se que o País enfrentava uma nova realidade contrária ao crescimento econômico pífio desde os anos 1980, que fez com que a infraestrutura nacional ficasse precária, defasada e sem planejamento para o futuro. Com isso, faltavam postos de trabalho e oportunidades, sobretudo para os jovens que saíam das escolas, inclusive e principalmente as de engenharia.
São quatro vezes mais calouros do que no início da década, aponta o jornal O Globo. "Desde o início dos anos 2000, nunca houve tantas pessoas estudando engenharia no Brasil. São mais de meio milhão de alunos, segundo o Ministério da Educação. Quase metade - 227 mil - são calouros,"
Mercado em transformação
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, observa que a expansão do número de ingressantes em engenharia é um avanço, porém, ainda segundo ele, insuficiente para resolver a carência da área no país. Se antes a área de interesse maior era a de direito, em razão dos grandes conflitos existentes num cenário de hiperinflação e baixo crescimento, observa o ministro, hoje, com o investimento público – com o PAC, Programa de Aceleração do Crescimento – e também privado, houve um crescimento da construção civil, de obras de infraestrutura e de desenvolvimento tecnológico.
O setor industrial se expandido e a existência de emprego são determinantes para escolha de profissão,segundo o diretor da Escola Politécnica da UFRJ, Ericksson Almendra. Ele disse ao jornal O Globo que, "atualmente há falta de engenheiros, o que significa que os salários estão aumentando. Nós temos pleno emprego para engenharia com salários crescentes, isso é que determina escolha”, afirmou Além de superar as vagas de Direito, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), trouxe outra surpresa, de acordo com o jornal: 30% dos estudantes de Engenharia são mulheres, enquanto nos Estados Unidos são apenas 8%.
O especialista em encontrar profissionais adequados para as empresas, Carlos Vitor Strougo, alerta que ter o diploma e conseguir uma posição não basta. O profissional precisa começar a ter" características pessoais para que ele possa enfrentar o desafio atual do mundo competitivo cruel e desafiador que é o nosso tempo”, aponta o recrutador.
O deficit de profissionais ainda é muito superior ao volume de universitários concluintes, alerta a Folha. Foram 45 mil em 2011, ante uma necessidade de ao menos 70 mil novos engenheiros ao ano, de acordo com cálculos oficiais. Para Roberto Lobo, ex-reitor da USP e consultor na área de educação superior, “o momento é positivo, mas os ganhos podem se perder”. Lobo dsse à Folha que há o risco de a evasão na engenharia crescer, pois, com o aumento no número de alunos, a tendência é que mais estudantes com dificuldades na área de exatas entrem nas faculdades. “As escolas terão de se preocupar ainda mais em dar reforços de conteúdos básicos.”
Mercadante, aponta outra dificuldade nos cursos. “São muito teóricos. O aluno fica anos sem ver nada de engenharia, são só cálculos, física. Muitos desistem.” A pasta organizará fóruns para influenciar as instituições a colocarem atividades práticas nos primeiros anos do curso e a aumentarem os estágios aos estudantes.
Isitec
O SEESP, de forma pioneira, elaborou um projeto ousado na área de ensino superior, o Isitec (Instituto Superior de Inovação e Tecnologia), concebido a partir de estudos sobre sociedade e mercado de trabalho, no Brasil e no mundo. O projeto diagnostica a premência por haver engenheiros especializados em processos de inovação. Esse engenheiro, que pode ser até um especialista, terá como foco uma estruturada “capacidade de caminhar em meio às mudanças” (National Science Foundation, sobre o futuro das engenharias). A instituição conquistou, recentemente, credenciamento junto ao MEC, e entrará em atividade no primeiro semestre de 2014.
O presidente do sindicato e da FNE, Murilo Celso de Campos Pinheiro, destaca que esse engenheiro da inovação será um novo profissional, articulador de processos de criação e transformação em segmentos diversos. “Ele atuará nesse sentido, valendo-se de formação sólida e abrangente nas ciências básicas, formação integral humanista e técnica, destacando-se na capacitação em diagnósticos e metodologias de gestão e produção de inovação”, analisa.
Com Seesp, Folha Online e O Globo