"Eu me preocupo com a juventude porque sou jovem", disse Marcellie Dessimoni ao se dirigir a uma plateia de dirigentes e militantes sindicais das entidades que formam a base da CNTU, durante a 7ª Jornada Brasil Inteligente, realizada na última sexta-feira (12). Em discurso que sensibilizou participantes, ela pediu espaço e oportunidades para que os jovens se apropriem da construção do futuro.
A jovem sindicalista que cancelou a ida a uma Encontro da Juventude do Cone Sul, na Argentina, para participar do encontro sindical da CNTU, foi convidada a ocupar a coordenação do Departamento do Jovem Profissional, lançado no evento. No dia seguinte, assumiu sua primeira tarefa, ao ajudar a conduzir uma reunião para tratar justamente da construção do Coletivo Jovem Profissional. Ela prometeu muito trabalho da confederação voltado aos recém-formados. Mas quem são eles?
Uma pesquisa para desvendar as novas gerações profissionais
O universo das novas gerações universitárias deixa hoje mais indagações do que certezas, disse o pesquisador da Unicamp, Waldir Quadros, ao apresentar o resultado do levantamento que realizou a partir de dados do IBGE. Com as recentes mobilizações em torno de temas de interesse público, facilitadas pelo uso da internet, permanece a dúvida sobre o real engajamento dessa geração na política e o interesse na participação social e sindical. No entanto, acredita ele, o potencial é grande e a CNTU deve procurar desvendá-lo. "Você não entende como um jovem faz seu trabalho no computador, ouve música e fala ao celular ao mesmo tempo, e no fim faz tudo certo. Meu filho consegue. Eu não", disse ele.
Para compreender um pouco mais sobre essa geração, a CNTU pediu ao professor Waldir um mapeamento dos perfis sócio-econômicos de quem está ou acaba de deixar a universidade. Ele apurou um conjunto de indicadores, a partir de dados quantitativos, fazendo uma estratificação social dos jovens com terceiro grau de escolaridade, completo ou incompleto, e também dos jovens atualmente ocupados, para verificar sua situação no mercado de trabalho. Alguns dados se destacam na pesquisa: o aumento da população universitária, de 8,1% em 2004 para 12, 9% em 2013, com maior salto nas faixas de 20 a 24 anos, que foi de 16,2% para 24,9% e de 25 a 29 anos, que passou de 14,3% para 24,6%. Ou seja, um quarto da população de 20 a 29 anos tem nivel superior. Já, considerada a média classe média, essa proporção é ligeiramente superior a 50% e, na alta classe média, a marca é de 76,4%.
As politicas econômicas e de ampliação do acesso à universidade ,na última década, explicam o aumento da população investigada. "È o meu caso ", disse Waler Moraes, do Sindicato dos Nutricionistas da Bahia, que se formou em farmácia por meio do Prouni, programa de bolsas do governo federal. A ascensão de novos segmentos à classe média e ao nível universitário, com apoio de políticas públicas pode causar estranhamento e incômodo entre jovens que já tinham oportunidades asseguradas. "Eu acabei discutindo com um primo que protestou no face contra o fato de que pessoas que fizeram o Pronatec poderiam acabar ocupando seu lugar no serviço público", disse Everton Rocha, do Sindicato dos Farmacêuticos do Amazonas.
A pesquisa aponta, por outro lado, que no universo que forma a base da CNTU, muitos profissionais, ainda em formação, obterão seu diploma sem terem passado pelo mercado de trabalho. A maior redução no número de jovens que estudam e trabalham se deu nas faixas mais jovens, de 15 a 19 anos e de 20 a 24, (em média 2, 5%), o que é relacionado ao aumento de renda das família que ascenderam à classe média, permitindo aos filhos dedicação exclusiva aos estudos.
Estes e outros dados - incluindo indicadores por gênero e raça, que continuam colocando as mulheres e a população afrobrasileira em desvantagem nos padrões sócio-econômicos - servirão de subsídios para as pesquisas qualitativas que deverão orientar o trabalho do recém criado departamento da CNTU. "Precisamos compreender as perspectivas desses jovens no mercado de trabalho, e também atraí-los para a vida sindical" - disse Marcelle. E isso, segundo ela, "não será com reuniões cansativas e diálogos intermináveis".
Para Allen Habert, diretor da CNTU que coordenou a atividade de sábado, é preciso criar canais de participação e de apoio ao jovem, por exemplo, através de facilidades para a Educação Continuada, que é um dos focos da CNTU. Um cartão associado a benefícios e direitos poderia participar das alternativas. Para Marta Rezende, a CNTU deve ser um canal de lutas para mudança do modelo de desenvolvimento do país. Deve investir em formas de comunicação abertas ao público jovem, que auxiliem na sua politização.
A reunião em torno do tema da juventude foi a segunda a promover o diálogo entre sindicalistas de várias idades, dispostos a entender o que a nova juventude profissional espera do movimento sindical. A proposta de uma pesquisa quantitativa foi feita na reunião anterior, realizada em agosto, que definiu como temas norteadores do coletivo o trabalho, a cultura e a política. "Devemos continuar assim, cumprindo as pautas de cada reunião, para avançarmos", defenderam as nutricionistas Rosemay Candil, do Mato Grosso do Sul, e Darlene Ramos, do Pará. A pauta, agora, deve se concentrar na identificação dos temas para as pesquisas qualitativas, e nas primeiras iniciativas de comunicação, a exemplo de uma cartilha que apresente o universo das representações profissionais e sindicais aos jovens universitários
Redação CNTU
Fonte: noticia-jovem_profissional_ganha_departamento_na_cntu-135913_17122014
Autor: Redação CNTU,