A falta de chuvas nas últimas semanas está reduzindo a quantidade de água para geração de energia nas hidrelétricas. O jornal O Estado de SP noticia que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) está usando todas as usinas térmicas disponíveis para gerar energia, mas não tem sido suficiente para evitar o esvaziamento.
A água armazenada nos reservatórios do Sudeste caiu para 44,9%, com folga de apenas 5,6 pontos em relação ao mínimo fixado pelo governo. Embora o País tenha capacidade para gerar até 12 mil megawatts (MW) de térmicas, a geração efetiva tem ficado em cerca de 4,5 mil MW médios com a falta de gás natural. Isso equivale a menos de 10% do consumo nacional, de cerca de 52 mil MW médios.
Em janeiro, costuma ocorrer aumento do nível de água nos reservatórios, mas o volume de chuvas deste ano está abaixo da média dos últimos 76 anos, desde que o governo começou a fazer levantamentos do volume de chuvas.
No Sudeste e Centro-Oeste, as chuvas ficaram 53% abaixo da média histórica e em torno de 50% no Nordeste. No Norte, a seca é ainda maior, com as chuvas 64% abaixo da média de longo prazo, o que se caracteriza como um dos períodos mais secos das últimas décadas.
A excessiva dependência das hidrelétricas é apontada por relatório da consultoria internacional Frost & Sullivan como principal fator de risco ao setor energético brasileiro. O documento, assinado pelo consultor Jorge de Rosa e divulgado no fim de 2007, alerta para o risco de racionamento antes de 2010, caso a estiagem prossiga.
Como não há tempo hábil para novas obras nem gás para gerar todas as térmicas, dizem especialistas, no curto prazo o País terá de contar com “a ajuda de São Pedro”.
“Parte importante da solução passa por uma maior diversificação da matriz energética”, diz Rosa, que defende maiores incentivos a fontes alternativas, como biomassa, eólica e nuclear. Em 2005, por exemplo, 91% da capacidade geradora de energia do País era proveniente de hidrelétricas.
Mesmo as alternativas atuais não têm se mostrado eficazes, pois não há gás natural suficiente para gerar todas as térmicas. A expectativa é de disputa cada vez maior entre os diversos consumidores do combustível.
Segundo os técnicos ouvidos pelo Estado de SP, a primeira conseqüência da falta de chuvas será o aumento do preço da energia. Para Rosa, a elevação nos próximos anos deve ser de pelo menos 15%.
O professor Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobrás e diretor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da UFRJ, acha que a situação dos reservatórios não deve ter efeitos maiores a curto prazo..
“É um problema de longo prazo, mas que se cruza com o problema da falta de gás”, disse elei. “Mas é claro que, se os reservatórios estivessem cheios, estaríamos mais tranqüilos.”
Ele acha que o governo deveria iniciar um programa para evitar desperdício de energia. “Um plano de racionalização da energia teria lugar agora, até para evitar a emissão de gases que causam o efeito estufa, que é algo que acontece quando acionamos as térmicas.”