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Estamos em pleno Biênio da Matemática, um movimento nacional instituído por lei em favor da melhoria do ensino e do aprendizado da disciplina no Brasil. Mas os cortes no orçamento da Pasta de Ciência e Tecnologia ameaçam a realização da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) em 2018. “Parece uma ironia. No momento em que o País deveria priorizar a Matemática, corremos o risco de cancelar uma atividade estratégica, que em sua última edição teve a participação de 18 milhões de estudantes brasileiros”, lamenta Marcelo Viana, diretor geral do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), responsável pela realização da OBMEP.

A Olimpíada tem um custo de R$ 53 milhões, ou seja, apenas R$ 3,00 por aluno participante, valor quase trinta vezes mais baixo que o do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que neste ano é de R$87,54 para cada um dos cerca de 7 milhões de estudantes que fazem a prova. Metade da verba vem do Ministério da Educação (MEC) e a outra metade do MCTIC. Segundo Viana, a verba do MEC está prevista no Projeto de Lei Orçamentária de 2018. O problema é a parte que deveria ser coberta pelo MCTIC. “O orçamento previsto para o Impa teve um corte da ordem de 50%. Para 2017, estava previsto cerca de R$ 80 milhões, mas recebemos apenas R$ 55 milhões. Para 2018, a previsão é ainda pior, apenas R$ 39 milhões”, conta.

A OBMEP é realizada desde 2005 e hoje envolve cerca de 53 mil escolas –  48.500 públicas e 4.500 da rede privada -, abrangendo 99,6% dos municípios brasileiros. “Ela alcançou uma capilaridade impressionante. Crianças que nunca gostaram de matemática passaram a gostar. E tudo isso por um custo baixíssimo”, argumenta Viana. O diretor do Impa esclarece que, no caso das particulares, os custos são cobertos pelas escolas.

A participação na OBMEP produz impactos impressionantes. Um estudo de 2014 mostrou que a média nos resultados da Prova Brasil das escolas que tiveram um envolvimento alto com a Olimpíada foi 26 pontos maior que as que se envolveram pouco. “Por apenas R$ 3,00 por aluno, você realiza uma atividade que, se a escola se engajar, ela pode melhorar muito”, comenta o diretor-geral do Impa.

Viana ressalta que mais que números, o impacto maior da OBMEP se dá nas transformações humanas e sociais, observadas pelas trajetórias dos egressos da Olimpíada. Muitos deles já estão no mercado de trabalho, alguns se formaram e foram estudar em prestigiosas universidades internacionais.

Um desses exemplos é Tabata Amaral, medalhista da OBMEP que ganhou uma bolsa para estudar em Harvard, onde graduou-se em ciência política e astrofísica e, ao retornar ao Brasil, ajudou a fundar o Movimento Mapa Educação, que mobiliza os jovens para pressionar a priorização da educação de qualidade no debate político. Outro exemplo é o matemático Artur Ávila, que participou duas vezes da Olímpiada, ganhou uma medalha de bronze e uma ouro, e, em 2014 foi laureado com a prestigiosa Medalha Fields, considerada o Nobel da Matemática. “Não são apenas números, são exemplos concretos, com calor humano”, diz Viana.

Segundo ele, não é somente a OBMEP que está ameaçada pelos cortes. Celebrado entre 2017 e 2018, o Biênio da Matemática é marcado pela realização no País dos dois maiores eventos na área: a Olimpíada Internacional de Matemática, que aconteceu em julho passado, no Rio de Janeiro, e o Congresso Mundial de Matemáticos (ICM), programado para agosto do ano que vem, também no Rio. Realizado pela União Internacional de Matemática desde 1897, esta será a primeira vez que o Brasil sediará o evento. “O ICM também está em risco de não acontecer, porque não sabemos se teremos recursos suficientes em 2018”, alerta.

O Impa tem mantido uma comunicação direta com o MCTIC, mas a solução, conforme aponta Viana, depende da área econômica do governo, que carece de uma visão estratégica. “Este seria o momento de consolidar a matemática no País, mas estamos colocando tudo em risco”.

Daniela Klebis – Jornal da Ciência

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