A proposta apresentada pelo secretário-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy, para selar um acordo em Doha, é contestada pela Índia e a China, com outros 100 países em desenvolvimento. A principal preocupação de chineses e indianos é proteger seus pequenos agricultores da abertura de mercados, que, segundo eles, poderia ameaçar a segurança alimentar nacional e levar milhares de trabalhadores à miséria. Lamy propôs as tarifas sobre a importação de produtos agrícolas tenham um teto de 15%, que só poderia ser ultrapassado se as importações aumentarem mais de 40%.
Lamy propôs as tarifas sobre a importação de produtos agrícolas tenham um teto de 15%, que só poderia ser ultrapassado se as importações aumentarem mais de 40%. O Brasil aceita o acordo, para não prolongar o impasse que se arrasta desde 2001. A Índia quer que o gatilho dispare quando as exportações aumentarem 10%. Um diplomata indiano disse que o limite de Lamy limite é inaceitável, pois ''quando as importações aumentarem 40% nossos cidadãos terão morrido''.
A China já anunciou que incluirá arroz, açúcar e algodão na lista de produtos especiais que poderá ficar livre de qualquer corte de tarifas de importação.Além disso, apóia a exigência da Índia de facilitar a aplicação de um mecanismo de salvaguarda especial - flexibilidade que permitiria aos países em desenvolvimento voltar a subir as tarifas de importação para proteger-se de um acentuado aumento nas importações.
A China também acusou os americanos de pressionar os países em desenvolvimento a fazer concessões em setores industriais nos quais os Estados Unidos têm grande vantagem exportadora, como o de maquinaria, químico e automotivo.Nesse capítulo, a Argentina se soma às reclamações, distanciando-se do Brasil, seu sócio no Mercosul, que já se disse satisfeito com a abertura proposta para suas indústrias.
Lamy ficou de apresentar nesta segunda-feira um texto revisado para tentar aproximar as posições opostas, mas seu porta-voz, Keith Rockwell, admitiu que será um documento cheio de espaços em branco."O objetivo é colocar no papel o que já foi tratado até agora para que as delegações tenham tempo suficiente para avaliar as propostas. Os temas sobre os que ainda não há convergência estarão em branco", explicou.
A OMC tem hoje 153 países-membros, porém só 35 estão presentes em Genebra, sede das negociações, representando regiões do mundo, e o grosso dos entendimentos está centralizado em apenas sete delegações: Estados Unidos, União Européia, Brasil, Índia, China, Japão e Austrália. As posições diferentes da Índia e do Brasil podem representar um racha do G-20 – bloco de países em desenvolvimento que desde a Conferência de Cancún, em 2003, vinha resistindo coordenadamente às tentativas de imposição por parte dos EUA e UE. O Brasil cedeu, a Índia e seus aliados não. (Com dados da BBC e Vermelho)