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Felipe Coutinho diz que a crise é oportunidade para essa escolha e que Petrobras pode ajudar. A estatal integrada, ele afirma, é arma para superar neocolonialismo.

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Convidado do 18º episódio da série Brasil Amanhã, promovida pelo Clube de Engenharia, o presidente da AEPET, Felipe Coutinho, abordou aspectos conjunturais e estruturais da crise mundial que se tornou mais evidente nos últimos meses, além de questões relativas ao setor petróleo.

Felipe reiterou que a pandemia da Covid-19 representa apenas um gatilho para uma crise capitalista muito mais profunda, de caráter sistêmico, deflagrada a partir de 2008, quando a economia mundial mergulhou na mais longa depressão desde 1929. Na opinião do presidente da AEPET, se for bem aproveitado, este cenário pode servir para que o Brasil escape do novo ciclo do tipo colonial que o ameaça, optando pelo desenvolvimento soberano e se apoiando na eficiência da Petrobrás.

Petróleo em baixa

"Atualmente, observamos uma queda nos preços do petróleo, que resulta simultaneamente de questões conjunturais e estruturais. Rússia e OPEP não chegaram a um acordo para uma diminuição da produção proporcional à redução da demanda por petróleo e derivados. Isto levou à superação da capacidade dos países para estocar petróleo, especialmente nos EUA, e ao colapso dos preços, que chegaram ficar negativos. Mas já houve uma recuperação, superando os US$ 30. Em valores atualizados, o barril de petróleo passou longos períodos cotado a cerca de US$ 20. Então, US$ 30 só é um valor baixo se comparado a cotações mais recentes", argumentou.

Voltando às questões estruturais, o presidente da AEPET lembrou que as crises cíclicas do sistema capitalista têm a função de destruir o capital fictício e as empresas menos eficientes. "O capital fictício é aquele que não tem lastro, alimenta dívidas e o sistema financeiro internacional. São trilhões de dólares que entram no sistema financeiro e valorizam artificialmente os ativos. A crise destrói também o capital produtivo menos eficiente e os salários pagos pelo trabalho, com consequências sociais gravíssimas", disse, acrescentando outro aspecto estrutural da crise: a ineficiência da indústria petrolífera dos EUA que depende das reservas de baixa qualidade do shale.

"O petróleo e o gás natural do shale são produzidos a partir de reservatórios de baixa qualidade, pela técnica do fraturamento hidráulico. Os custos de produção são altos, exigindo investimentos continuados. Mesmo com preços mais altos do petróleo, de forma agregada, essa indústria sempre teve fluxo de caixa livre negativo, ou seja, a geração de caixa descontada dos investimentos não gerou valor para a indústria. Esta indústria é relativamente ineficiente e fica ainda mais vulnerável com a queda dos preços".

Em 2016, o presidente da AEPET publicou artigo intitulado O preço do petróleo e o sinal dos tempos (clique aqui para ler), no qual demonstra que o preço do petróleo não tem sido adequado para atender simultaneamente a produtores e consumidores. "Quando o preço está alto para os consumidores, reduz a demanda e a atividade econômica. Quando está baixo para o consumidor, não atende às condições que a indústria precisa para investir, administrar dívidas e realizar lucros", argumentou, ponderando que o preço pode também estar, ao mesmo tempo, baixo para a indústria e alto para o consumidor. "É o que estamos observando. Um problema que veio para ficar, daí ser estrutural".

Em outro artigo, Fim do petróleo barato e do mundo que conhecemos, de 2017, (clique aqui para ler) Felipe demonstra que os custos para produção do barril adicional de petróleo, em termos agregados e mundiais, estão cada vez mais altos, já que as reservas mais fáceis de se explorar, com maior qualidade, estão sendo esgotadas. "O desenvolvimento tecnológico ameniza isso, mas a realidade geológica se impõe à nossa capacidade de encontrar soluções, que é limitada porque somos capazes de encontrar e transformar os recursos naturais disponíveis, não de criá-los", explica.

Petrobrás eficiente

Diante disso, a Petrobrás tem hoje uma grande vantagem relativa, por ser eficiente e por ter encontrado o pré-sal. "O Brasil precisa se desenvolver soberanamente e, para tanto, não deve permitir a exportação de petróleo cru, ainda mais por multinacionais estrangeiras. Isso não desenvolveu país nenhum. Ainda consumimos pouca energia per capita. Existe um risco sistêmico para a indústria petrolífera dos EUA, por conta da baixa qualidade dos reservatórios do shale e da consequente ineficiência dessa indústria, cuja onda de falência pode contaminar o sistema financeiro. Mas o Brasil tem oportunidade de evitar um novo ciclo do tipo colonial. Para tanto, precisamos garantir a manutenção da Petrobrás integrada nacional e verticalmente e recuperar os ativos que foram vendidos, em especial a Distribuidora e as Malhas de Gasodutos (TAG e NTS)", resumiu.

Clique aqui para assistir a palestra na íntegra.

AEPET

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