No segundo e último dia do II EcoSP (Encontro de Meio Ambiente de São Paulo), sexta-feira (7), foi discutido o tema “Energias alternativas”. Biomassa, energia eólica (vento), energia fotovotaica (solar), energia nuclear, hidrogênio foram abordados pelos expositores, como fontes alternativas para mudar a matriz de energia baseada nos combustíveis fósseis, que dominou o planeta nos últimos 150 anos.
“Precisamos de outras referências para uma nova matriz energética para o mundo”, defendeu o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP), na primeira palestra, acrescentando que o maior desafio da humanidade hoje é a alteração das condições climáticas para evitar o aumento do efeito estufa.
Para ilustrar a urgência da medida, Jardim citou o exemplo dos Estados Unidos, cuja matriz energética é baseada na utilização do carvão e do petróleo. Apesar de representarem 4% da população mundial, os Estados Unidos são responsáveis pela emissão de 28% dos gases que causam o efeito estufa. “Os Estados Unidos tentam dar lições de preservação para os outros países, mas não fazem a lição de casa”.
Ao contrário do país estadunidense, o Brasil, elogiou o deputado, tem contribuído para o debate sobre as energias alternativas. “Em 1992, o mundo se reuniu no Rio92. E evoluímos de uma posição ecológica que achava que se deveria manter a natureza intocada, para o conceito atual de sustentabilidade.”
Arnaldo Jardim observou que a energia fotovotaica, a solar, tende a ter um papel crescente na matriz nacional de energia elétrica. “Aqui em São Paulo os conjuntos habitacionais da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) já estão sendo construídos com o aquecedor solar.”
Outra alternativa de energia defendida pelo deputado é a eólica, ou energia dos ventos. “Temos duas regiões bem favoráveis no Brasil para esse tipo de energia: o Nordeste, principalmente os estados mais em direção ao mar, como Rio Grande do Norte e Sergipe; e o Sul do país”.
O parlamentar disse que está revendo a sua posição, antes contrária, à utilização da energia nuclear. Ele lembrou que quando se fala em energia nuclear, lembra-se de Chernobyl (Rússia), “mas foi uma coisa muito localizada e houve uma sucessão de irresponsabilidade na execução do projeto”, observou, apresentando os índices de países como a França e a Alemanha que, respectivamente, utilizam 28% e 65% dessa energia. “Ela (a energia nuclear) é limpa. Há decisão do governo (brasileiro) de ampliar a utilização da energia nuclear." O único “porém” dessa alternativa é o seu resíduo final, que ainda está sem solução, “mas há pesquisas que indicam a reutilização plena desse resíduo. É um desafio enorme o armazenamento dos resíduos da energia nuclear”, admitiu. Todas as mudanças que forem feitas na matriz energética do país devem ter algumas referências e cuidados importantes, conforme Arnaldo Jardim. Algumas delas: garantir sustentabilidade econômica, gerar uma normatização (ou seja, legislação adequada) e manter esforço acentuado de inovação tecnológica e pesquisa científica permanentes.
Vem aí os ônibus com células de hidrogênio
Ônibus com ar condicionado para 90 passageiros, com potência de 210 KW, tamanho Padron 12m/3 portas e com emissão zero de poluentes e contribuindo para a redução dos níveis de dióxido de carbono (CO2), óxidos de nitrogênio (NOx), material particulado (MP), óxido de carbono (CO) e hidrocarbonetos (HC). Este é o ônibus movido a Fuel Cell, ou seja, células de hidrogênio, que está em teste na cidade de São Paulo.
A informação foi prestada pelo gerente de Desenvolvimento da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), Carlos Zundt, na segunda palestra do II EcoSP sobre energias alternativas. O projeto está sendo desenvolvido com recursos vindod do Exterior, do governo federal (Ministério de Minas e Energia) e da própria EMTU.
Carlos Zundt explica que, no final da década de 1990, o Banco Mundial escolheu a cidade de São Paulo, porque abriga a maior frota de ônibus do mundo, para integrar um projeto experimental de ônibus de hidrogênio, juntamente com mais oito cidades de outros países (México, Portugal, Alemanha, África do Sul, Índia). O experimento é desenvolvido em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Global Environmental Facility (GEF) e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Já foi investido no projeto, entre recursos de governos, da iniciativa privada e do Banco Mundial, R$ 38.547.590,00.
Em algumas dessas cidades o projeto não avançou, mas em outras, caso de São Paulo, Hamburgo (Alemanha), Cidade do Porto (Portugal) e Xangai (China), o projeto continua. “Hamburgo já tem uma frota de 12 veículos de hidrogênio. O Brasil segue um caminho diferente, no sentido de que vamos desenvolver o nosso próprio projeto”.
Segundo Carlos Zundt, o Brasil trabalha para se tornar um grande produtor e exportador desse tipo de ônibus. “Estamos obtendo conhecimento tecnológico, know how, ou seja, o modo de fazer, quebrando o paradigma de que país de Terceiro Mundo não tem pesquisa científica e desenvolvimento de tecnologia. Podemos comprar lá fora todos os outros componentes, mas o Sistema de Gerenciamento de Energia é nosso. Essa tecnologia foi desenvolvida pelo Brasil”, orgulha-se.
Transporte coletivo é o que polui menos
Setenta e cinco por cento. É com esse índice que o transporte “participa” da poluição ambiental. O grande vilão, contudo, não é o transporte coletivo, mas o individual, principalmente as motocicletas. “Ela polui 35 vezes mais que um ônibus”, explicou o engenheiro Laurindo Martins Junqueira Filho, superintendente de planejamento estratégico de transportes da SPTrans (São Paulo Transportes).
Em São Paulo, em razão dos grandes congestionamentos por causa da grande frota de veículos, principalmente os de uso individual, o ônibus, que é projetado para desenvolver 70 quilômetros por hora, desenvolve apenas de dois a 12 quilômetros em média por hora. “A velocidade baixa significa 16% de aumento nos custos dos ônibus”.
“Quanto mais circulação mais desenvolvimento, mas também mais problemas, como congestionamentos, problemas ambientais.” Para reverter esse quadro crescente na capital paulista, de acordo com o gerente da SPTrans, está sendo discutido entre as três esferas de governo (municipal, estadual e federal) um plano de desenvolvimento, com as seguintes metas: a planificação, integração, intersetorial, transversal, matricial; aumentar a mobilidade e acessibilidade ao território; privilegiar o coletivo sobre o individual motorizado; estimular as ligações anelares; incentivar plataformas logísticas hierarquizadas e próximas aos anéis viários e oferecer malhas alternativas de circulação. (Rosângela Gil)
Autor: Beatriz Arruda