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Cresce Brasil

A eleição de Barack Obama, nos EUA, e as indicações de que uma nova política energética terá papel central em sua gestão trouxeram impulso inédito ao tema.

Dentro do que chamou de um "novo capítulo" nas posições americanas no debate sobre mudanças climáticas, o presidente eleito anunciou investimentos de US$ 150 bilhões nos próximos dez anos para o desenvolvimento e pesquisa de energias limpas, além da criação de um sistema federal de comércio de emissões de gases -que os especialistas consideram um marco, à medida que define preços para o carbono.

"Temos um novo sopro de esperança", disse à Folha o físico austríaco Fritjof Capra, autor de livros como "O Tao da Física" e "Ponto de Mutação", que esteve no Brasil para a Ecopower Conference 2008. "O plano de Obama é estimular a economia e a geração de empregos privilegiando o uso das energias limpas. Além da injeção de recursos que receberão, vemos que, com uma promessa de maior escala, elas também começam a chamar a atenção dos investidores", afirmou.

As novidades se espalham. Na Inglaterra, o governo anunciou recentemente um ambicioso plano para reduzir a dependência econômica do petróleo, no qual serão gastos cerca de 100 bilhões de libras até 2020. Projetos de grande porte para a geração de energia a partir de fontes alternativas, como a solar na Alemanha e em países da África, e a eólica na Escócia, na Turquia e em diversos Estados norte-americanos, também reforçam essa expectativa.

Até na China, onde as questões ambientais são vistas com alguma desconfiança, o governo anunciou investimentos de US$ 220 bilhões em projetos de energia renovável nos próximos seis anos.

"Começamos a perceber que os negócios, da maneira como vinham sendo feitos até agora, se tornam cada vez menos viáveis. Isso leva necessariamente a uma transição de uma economia alimentada majoritariamente por petróleo e carvão para uma alimentada por fontes alternativas", diz o americano Lester Brown, fundador do WorldWatch Institute e considerado um dos maiores especialistas mundiais no assunto.

Obviamente, há uma série de barreiras tecnológicas e econômicas para as novas fontes, e a principal delas é o preço, uma vez que praticamente todas as alternativas "limpas" ao uso dos combustíveis fósseis são substancialmente mais caras (com exceção das usinas hidrelétricas, alvo de debates acalorados entre os ambientalistas).

Renováveis são quase metade da matriz do país

O Brasil tem quase metade de sua matriz energética representada por fontes de energia renováveis, um número superior à média mundial, mas a participação de fontes alternativas como a eólica, a solar ou a geotérmica é praticamente nula.

Segundo os mais recentes dados oficiais disponíveis, as fontes renováveis somavam 46,4% da matriz energética nacional em 2007. O maior peso nessa categoria veio da cana-de-açúcar, que respondeu por 16% da oferta interna de energia, seguida pela biomassa (basicamente lenha e carvão vegetal), com 15,6%, e pela energia hidráulica e eletricidade (14,7%).

O petróleo e seus derivados, entretanto, ainda representavam o grosso da oferta interna de energia, com uma participação de 36,4%. Entre as demais fontes não-renováveis, o gás natural teve 9,3%; o carvão mineral, 6,2%; e o urânio, 1,4%.

A eólica apareceu apenas quando se falou da oferta interna de energia elétrica, em que apareceu com 0,1% (a de origem hídrica teve fatia de 77%). No auge do apagão elétrico, em 2001, chegou-se a criar um incentivo para a instalação de até 1.100 MW de energia gerada a partir do vento, mas pouquíssimos projetos avançaram.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, tem sinalizado incentivos fiscais para o desenvolvimento das energias eólica e solar no país. O petróleo, no entanto, dificilmente deixará o posto de principal combustível para a economia brasileira. Sobretudo após a descoberta de reservas gigantescas do produto no litoral brasileiro, nas chamadas camadas pré-sal.

(Extraído de artigo de André Palhano, Folha de S. Paulo, 25 de Novembro)

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