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O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) comemorou, em 2013, a igualdade de gênero no número de cientistas brasileiros; dos cerca de 128,6 mil pesquisadores metade eram mulheres. Mas a predominância feminina ainda ficava em áreas como fonoaudiologia, enfermagem e serviço social, nas quais representam 80% do contingente. Em física e engenharias, elas não ultrapassavam 20%.

A participação do gênero vem aumentando, mas lentamente. Segundo dados do Perfil Ocupacional dos Profissionais da Engenharia no Brasil, desenvolvido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a pedido da FNE, também em 2013, as engenheiras representavam 20,8% da categoria frente aos 16,8% de dez anos antes.

Neste contexto ainda desigual, surgem ideias para favorecer a inclusão feminina no mundo das exatas. É o caso do projeto Futuras Cientistas, do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), idealizado e coordenado pela pesquisadora na área de nanotecnologia Giovanna Machado. Com apoio do consulado americano, é um curso de verão exclusivamente para alunas do ensino médio e professoras da rede estadual em Pernambuco.

“Quando iniciei o programa, eu pensava em simplesmente aumentar o número de mulheres na ciência. Como pesquisadora nessa área, eu sei quanto é difícil a caminhada”, conta Machado, que teve a ideia ao participar de um congresso promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU), nos Estados Unidos, sobre ações de inclusão da mulher à ciência. “Pensei: o que eu poderia fazer para ajudar?”, lembra.

Desde 2015, nas férias de janeiro, dez estudantes do segundo ano do ensino médio (que possuem as melhores notas em matemática, química, física, português e biologia) e cinco professoras (avaliadas pelos seus currículos Lattes) frequentam por quatro semanas os laboratórios do Cetene. Cada uma delas tem um pesquisador tutor para ensiná-las e desenvolver projetos voltados a nanotecnologia, circuitos integrados, biocombustível, microscopia eletrônica ou biofábrica. Elas recebem uma bolsa auxílio de R$ 400,00.

Segundo a precursora, as futuras cientistas “aprendem teorias e técnicas”. Ao final do programa, as alunas produzem um artigo científico. Inclusive, ressalta Machado, dois trabalhos fruto do programa deste ano foram apresentados em congressos e publicados em revistas científicas. “O grande ganho é ver que as meninas chegam aqui se sentindo deslocadas, mas se encantam. Percebi que muitas mulheres não escolhem áreas tecnológicas porque não sabem como são e o que este mundo pode lhes oferecer. Além do preparo, elas saem com a conscientização do empoderamento da mulher, independentemente da área queescolherem”, comemora.

Também no incentivo à experimentação como conhecimento da área, está a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), realizada em São Paulo. Na edição deste ano, em março último, foram cerca de 750 jovens do oitavo e do nono ano do ensino fundamental do Brasil inteiro que participaram em três dias de feira. “Queremos que meninos e meninas descubram seus talentos. Ao longo de 15 anos de Febrace, percebemos que as meninas se interessam pela engenharia porque descobrem que não se trata apenas de cálculos”, conta a criadora da feira, a professora livre-docente do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) Roseli de Deus Lopes.

Para participar, segundo ela, basta ter uma ideia ou um problema a ser solucionado, e o evento é responsável por “criar uma série de oportunidades para que eles desenvolvam seus projetos, com premiações e bolsas aos melhores”. Para Lopes, a mulher ainda sofre preconceitos nos mercados vistos como masculinos, e “muitas coisas passam despercebidas, como se fossem normais. Mas sabemos que não é”. E conclui: “O que estamos fazendo (na Febrace) é dizer a meninos e meninas que eles podem escolher ser aquilo que quiserem.”

8 de março no Isitec
Lopes foi uma das convidadas à roda de conversa sobre a mulher na engenharia, realizada pelo Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), na capital paulista, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, 8 de março último. Também participaram do debate a engenheira agrônoma proprietária da empresa WF Ambiental, Engenharia, Estudos e Projetos, Fabiane Becari Ferraz, e a aluna do terceiro ano de Engenharia de Inovação do instituto Juliana Yukimitsu. A editora do Engenheiro e gerente de comunicação do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp), Rita Casaro, fez a mediação do debate.

Com a participação interessada dos alunos do Isitec, as engenheiras colocaram em debate a discriminação à mulher no setor. Ferraz lembrou que já foi destratada quando em cargos de liderança “apenas por ser mulher”. A estudante Yukimitsu dividiu que sempre foi incentivada. “Mas mesmo nunca passando por repressões, não vou virar as costas a tantas que sofrem com isso”, disse. Lopes, em sua fala, elogiou a postura da aluna. “Essa juventude está mais ligada nisso. Com os meios de comunicação que temos hoje, podemos propagar uma maior conscientização”, apontou sobre o combate à diferenciação causada pelo machismo.

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