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Bitcoin, Ethereum, Ripple, Stellar, Iota. Essas são algumas criptomoedas que, segundo especialistas, vieram para ficar. Conforme eles, o surgimento desse “dinheiro virtual” representa transformação equivalente ao advento do papel-moeda, introduzido no comércio marítimo pela China medieval.

“Vivemos uma mudança grande. Na história mais recente, o dinheiro sempre foi emitido por bancos centrais, que garantem credibilidade. Agora, está sendo criado por cálculos matemáticos sem intermediários, com um sistema de validação feito pelos próprios usuários e de forma anônima”, descreve Rafael Sarres, professor do curso de pós-graduação do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) sobre “Rede de computadores com ênfase em segurança”.

Ele explica que a novidade nesse fenômeno está em como a moeda nasce, de forma descentralizada em milhares de computadores conectados à internet e que realizam uma espécie de competição matemática, cujo objetivo é decifrar cálculos e validar as transações dos demais participantes a cada dez minutos aproximadamente. Essa prática ficou conhecida por mineração. A validação da moeda também ocorre sem uma instituição, simplesmente um minerador valida os cálculos do outro, e o resultado é auditado por todos os participantes da rede. Outra característica é o fato de que a emissão de novos ativos tem prazo de validade. Isso porque o algoritmo das criptomoedas limita a sua produção. Por exemplo, está estabelecido matematicamente que podem circular no máximo 21 milhões de bitcoins e há previsão de que os últimos sejam emitidos no longínquo ano de 2140.

Opções diversas

A criptografia assimétrica é outra tecnologia usada. “Ela trabalha com duas chaves, uma pública e outra privada. A chave privada deve ser mantida em sigilo. É necessária para realizar transações, o que garante a autenticidade do processo. Ou seja, quem tem a chave privada específica de uma conta consegue mover as moedas, logo é muito importante guardar essa informação em local seguro”, completa Sarres.

As chaves privadas são guardadas em uma carteira virtual – software específico para cada moeda. Existem diversas opções. Ao instalar pela primeira vez, o programa cria um código secreto que será usado de forma similar a uma senha para realizar transações, como ocorre em um ambiente bancário, com a diferença que os participantes têm suas identidades preservadas, já que o anonimato é princípio do criptoanarquismo, movimento que inspirou a criação das primeiras criptomoedas na década de 1990. “A comunidade criptoanarquista buscava uma moeda segura sem intermediários e que o governo não tivesse acesso, o que faz parte da filosofia de liberdade e livre mercado, sem finalidade criminosa. Existe, claro, quem queira fazer disso uma contravenção e comprar drogas, por exemplo”, comenta Sarres.

O bitcoin apareceu em 2008 em um fórum sobre criptografia na internet, onde surgiu um texto explicando as regras, assinado por Satoshi Nakamoto, cuja identidade real até hoje não foi revelada. Especula-se que o seu criador, um dos primeiros mineradores, teria agregado aproximadamente 1 milhão de bitcoins em sua carteira.

A engenharia computacional por trás da moeda é a blockchain, em que ocorre a mineração. Trata-se de uma estrutura de dados organizados em blocos que vão sendo criados e encadeados, utilizando uma técnica matemática chamada hash criptográfico, que nada mais é do que um resumo que identifica de forma única um conjunto de dados, nesse caso, um bloco. Esse resumo é armazenado em cada bloco e garante a integridade do bloco anterior. Dessa forma, qualquer alteração em um bloco alteraria seu resumo e invalidaria toda a cadeia subsequente.

Além das mais valorizadas atualmente, existem cerca de 5 mil moedas virtuais que se estruturam em blockchain. O engenheiro da computação Lucas Lago, pesquisador do Centro de Estudos Sociedade e Tecnologia da Universidade de São Paulo (Cest-USP), explica que o hash criptográfico faz com que o poder de processamento necessário para alterar uma moeda seja superior ao demandado para criá-la, o que inviabiliza sua adulteração. “Precisaria alterar cada bloco e se gastaria muito tempo para alterar uma cadeia inteira. Tem-se, portanto, uma estrutura rígida impedindo que informações antigas sejam alteradas ou removidas. Essa é a grande revolução: gerar uma estrutura de dados que ninguém consegue alterar, pelo menos até então”, explica Lago.

Valor no mundo real

A interface entre as criptomoedas e o mundo real se dá por meio do pagamento por produtos ou serviços com esse dinheiro virtual, em sua maior parte bitcoin. Os locais físicos que utilizam a forma de pagamento são divulgados em http://coinmap.org.. Empresas de tecnologia como Dell e Microsoft aceitam para vendas online, e alguns cartões recebem transferência das carteiras virtuais, como o Celcoin. E há as transações financeiras, conforme a cotação do mercado estabelecida pela oferta e procura, que tem gerado fortunas virtuais. No final de fevereiro, após forte especulação, um bitcoin valia US$ 10 mil, metade do seu valor em 2017.

Aos 18 anos e recém-formado em Tecno­logia da Informação no ensino médio, Leonardo Rangel Júnior tornou-se um trader desse mercado. Ele teve contato com o tema no início de 2017 e começou um investimento de R$ 10 mil em bitcoins. Em setembro, havia acumulado o equivalente a R$ 40 mil e partiu para uma aposta mais ousada: “Decidi arriscar tudo que tinha numa outra moeda, a Iota.” Cerca de três meses depois, obteve ganho de 500% com a venda.

“Após muito trabalho me especializei no comportamento da tecnologia, que é inovadora, disruptiva, com chance de mudar o mundo”, conta o adepto e futuro minerador. Ele pretende montar uma fazenda de computadores no Paraguai, onde o custo da energia elétrica, insumo altamente consumido na atividade, será mais baixo.

Saiba mais: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bitcoin

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