A uruguaia Carmem Sosa, conhecida por coordenar em seu país o plebiscito contra a privatização da água, integrou uma das comissões dos 12 países presentes ao Fórum Social do Mercosul, que terminou ontem no Paraná.. Segundo ela, os números oficiais, apresentados pela Organização das Nações Unidas (ONU), deixam clara a necessidade da integração entre os povos, do intercâmbio do conhecimento para vencer o que ela chamou de “guerra”.
"São 2,6 bilhões de pessoas – mais de 40% da população mundial – sem saneamento básico, um bilhão de pessoas usando fontes de água impróprias para o consumo e 5 milhões de pessoas, na sua maioria crianças, morrendo todos os anos de doenças relacionadas à qualidade da água”, alertou.
Sosa disse ainda ter ouvido do governador do Paraná, Roberto Requião, que o estado pretende seguir o exemplo do Uruguai, onde o plebiscito decidiu que a água é pública.
O aquecimento global e as mudanças climáticas, e como se deve lidar com essas novas questões, serão mostrados em vários vídeos durante o Fórum e depois será aberto o debate entre os convidados. Entre os documentários destacam-se Sede - Invasão Gota a Gota, da argentina Mausi Martinez, que retrata a preocupação quanto ao uso sustentável e estratégico do Aqüífero Guarani, e Além do Jejum - A luta de dom Luiz Flávio Cappio contra a transposição do Rio São Francisco, do também argentino Carlos Pronzato.
Dom Ladislau Biernaski, bispo de São José dos Pinhais (PR) e representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no Fórum, convocou os participantes a “exigirem” que governos de seus países se comprometam a garantir o direito de todos à água e que a declarem como bem público.
“Precisamos de uma legislação adequada, com força jurídica pela ONU, por meio de uma Convenção Internacional da Água", defendeu, ao lembrar que no último dia 22 o Conselho Ecumênico das Igrejas Cristãs e a Conferência dos Bispos da Suíça confirmaram, junto com a CNBB, a declaração de igrejas do mundo inteiro em favor da água como direito humano e bem público.
Segundo ele, este documento foi assumido em 2005 e será renovado todos os anos, em sintonia com a Década Internacional da Água (2005-2015).
O painel da água abordou também a importância da preservação do Aqüífero Guarani, denominação dada à reserva de água do subsolo da região sul do continente, com um estoque estimado em 50 quatrilhões de litros de água pura. A área de abrangência é de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, dos quais 71% estão localizados no Brasil, 19% na Argentina, 6% no Paraguai e 4% no Uruguai.
No estado, a abrangência é de 131,3 mil quilômetros quadrados e cerca de 2,9 milhões de paranaenses são abastecidos com águas provenientes do aqüífero.
O painel Boas Práticas, sobre o uso correto da água, foi coordenado por Maria Arlete Rosa, diretora de Meio Ambiente e Ação Social da empresa estadual de saneamento. Foram abordadas práticas corretas de gestão, adotadas por órgãos públicos estaduais, prefeituras, organizações não-governamentais e outras instituições. Ela destacou a apresentação de projetos na Região Metropolitana de Curitiba, como o da Vila Zumbi dos Palmares (Colombo), e as ações realizadas no Jardim Guaraituba, em Piraquara, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Estão previstos R$ 98 milhões para obras de urbanização e regularização fundiária na área, onde vivem cerca de 40 mil pessoas. O projeto preserva os mananciais, já que a planície do Guarituba é cortada por três rios (Piraquara, Irai e Itaqui), reponsáveis por 70% da água que abastece a capital. (Lúcia Nórcio, Abr)