Uma das alternativas mais promissoras para reduzir as emissões de gás carbônico industrial e de centrais térmicas consiste na sua captura no local de produção e posterior armazenagem em camadas profundas do subsolo ou oceano. As outras são a melhoria do rendimento energético da geração termoelétrica e a substituição de combustíveis com alto teor de carbono (carvão e petróleo) por fontes renováveis de energia.
O CO2 recuperado na fonte de emissão pode ser transportado por gasodutos ou via marítima, mediante sua prévia liquefação, e, então, injetado em reservatórios geológicos (poços mortos de petróleo e aqüíferos salinos) ou oceânicos. Essa última alternativa tem sido objeto de pesquisa – especialmente nos Estados Unidos e no Japão – em razão de possíveis danos à fauna e flora marítimas, resultantes da acidificação da água pelo excesso de CO2. A capacidade total de estocagem geológica e oceânica é estimada entre 800 e 12.000 bilhões de toneladas.
Nos países mais industrializados, os principais emissores de CO2 são usinas termoelétricas, siderúrgicas, refinarias e fábricas de cimento. Na Polônia, cerca de 95% da eletricidade é produzida a partir da queima de carvão, e em vários outros países esse índice é alto, como na Alemanha (60%) e Estados Unidos (50%).
As grandes instalações piloto
Apenas algumas dezenas de instalações de captura e estocagem de carbono (CCS, na sigla em inglês) estão em funcionamento no mundo, mas sua disseminação parece inevitável no contexto da atual regulamentação das emissões de carbono, que deve tornar-se ainda mais restritiva após a próxima convenção mundial do clima, no final do ano em Copenhague.
Desde 1996 a Statoil, maior empresa de petróleo da Noruega, desenvolve projetos de CCS de grande porte, com instalações-piloto em plataformas de petróleo e gás no Mar do Norte, no Mar de Barents e na Argélia.
Em Esbjerg, Dinamarca, foi inaugurada no ano passado a maior instalação de CCS do mundo, financiada pela União Européia, através do projeto CASTOR (CO2 from Capture to Storage).
A empresa francesa Alstom firmou recentemente um acordo com a polonesa PGE para instalar até 2011 em Belchatow, Polônia, uma usina com capacidade para capturar 100 mil toneladas de CO2 por ano. Trata-se de uma tecnologia de captura avançada, baseada no uso de aminas, a custos energéticos bem menores do que as técnicas tradicionais de absorção. Outros três projetos-piloto da Alstom estão em curso na Alemanha, Suécia e Estados Unidos.
Perspectivas futuras
Para Ashleigh Hildebrand e Howard Herzog, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), centrais elétricas equipadas com dispositivos de CCS tem custos iniciais 30 a 60% maiores, além de uma diminuição de eficiência na geração, o que implica num kWh final mais caro. Os dados constam do trabalho “Optimization of Carbon Capture Percentage for Technical and Economic Impact of Near-Term CCS Implementation at Coal-Fired Power Plants”, apresentado na GHGT-9.
Os autores do estudo defendem que a melhor estratégia para viabilizar a implantação em larga escala da tecnologia de CCS é proceder por etapas, o que significa equipar as usinas progressivamente, em termos de capacidade de captura de CO2.
Na ótica dos pesquisadores do MIT, a idéia predominante de que a captação total de CO2 na fonte de emissão torna-se economicamente vantajosa em larga escala está equivocada. Eles afirmam que procedimentos de captura parcial permitem reduzir a emissão de CO2 em centrais a carvão a níveis equivalentes aos de centrais a gás, com custos de investimento bem inferiores e menor perda de eficiência.
Segundo dados da companhia francesa Gaz de France – que opera diversas instalações piloto na Europa – os custos atuais de captura de CO2 para uma central termoelétrica de 500 MW variam entre 30 e 60 euros por tonelada, dependendo da tecnologia adotada.
Considerando que as emissões termoelétricas e industriais respondem por cerca de um terço do total de emissões antrópicas de gás carbônico (~23 bilhões de toneladas por ano), a implantação generalizada de sistemas de CCS representaria cifras econômicas consideráveis. A agência de consultoria global McKinsey estima para 2030 uma redução equivalente a 15% da taxa atual de emissões mundiais, com a implantação em larga escala desses sistemas.
Diante dos altos custos requeridos para a captura, o transporte e a estocagem de CO2, resta saber até que ponto novos projetos de grande porte participarão do mercado de créditos de carbono, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento sustentável dos países menos poluidores.
(Jornal da Ciência, Antonio Pralon)