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Anderson Luis Szejka é professor e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) vinculado aos cursos de Engenharia de Controle e Automação e Engenharia de Produção, e ainda coordenador da especialização em Engenharia e Gestão da Industria 4.0 e colaborador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas (PPGEPS). Ele falou ao Engenheiro sobre o novo modo de produção industrial a partir do ponto de vista da ciência e tecnologia.

Em rápidas linhas, o que é a indústria 4.0? E como ela se relaciona ou está relacionada à engenharia?

Anderson Luis Szejka – A indústria 4.0, ou quarta revolução industrial, apresenta um novo conceito: o da conectividade e da interação entre os domínios físicos, digitais e biológicos. Esse conceito surgiu em 2011 na feira de Hannover na Alemanha, o qual ainda está sendo modelada e definida. Não existe um modelo padrão dela ainda, mas sim conceitos e tecnologias que permitem a concepção de fábricas inteligentes, com sistemas físicos e virtuais de fabricação cooperando de forma global e flexível. Isso permite a total personalização de produtos e criação de novos modelos operacionais.

A indústria 4.0 está inteiramente relacionada à engenharia, pois prevê a aplicação e utilização de robôs autônomos, manufatura aditiva, internet das coisas (IoT) e computação em nuvem. Além disso, é possível dizer ainda que essas tecnologias deverão estar relacionadas a técnicas de padrões abertos, realidade aumentada, big data analytics, cyber security e simulação. Com isso, as empresas deverão observar um aumento na capacidade de resposta de seus processos produtivos, eficiência e qualidade. Vale destacar que a quarta revolução industrial não foca em uma ou outra engenharia, mas sim na transdisciplinaridade das competências das engenharias para conceber uma “fábrica inteligente” (smart factories).

Como está o Brasil em relação a essa nova era industrial e no que ela difere das "revoluções" anteriores?

O pioneiro da quarta revolução industrial foi a Alemanha, seguido de outros países como Estados Unidos, Japão, China, entre outros. O Brasil ainda está em um estágio de maturação, mas com uma evolução exponencial. Em 2015, pouco se ouvia falar dela. Já em 2017 temos diversas universidades, centros de pesquisa e empresas discutindo em conjunto qual será o modelo brasileiro da indústria 4.0, a também denominada por diversos setores como a transformação digital da indústria.

As anteriores foram revoluções de tecnologia, como a primeira ou a da máquina a vapor; a segunda ou a da revolução da eletricidade; a terceira ou a da revolução digital ou do computador. A atual, diferente das anteriores, é uma revolução marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas. Considera-se que a indústria foi automatizada e informatizada durante a terceira revolução e agora deve utilizar a infraestrutura de forma mais inteligente e flexível. Mais que um movimento revolucionário, é possível afirmar que a indústria 4.0 é uma arquitetura de referência que prevê a utilização de automação industrial com integração horizontal e vertical da informação.

Quais os fundamentos mais importantes desse modo de produção digitalizado, ter uma política industrial é um deles? 

O fundamental para a indústria 4.0 é não ter limites para o acesso à informação que fundamentará uma tomada de decisão autônoma ou não de forma consistente em tempo real. Porém, uma política industrial bem definida é importante para regular os níveis de acesso às informações e a segurança da mesma. Por exemplo, com o sensoriamento de um processo industrial é possível, em tempo real, medir a eficiência e eficácia de um operador, sem que este precise fornecer informações extras. Em outras palavras, é necessário limitar o quão intrusivo essas tecnologias poderão ser nos processos industriais.

Muitos tomam a indústria 4.0 como "redentora" de todos os problemas da sociedade. É isso mesmo?

Ela não é e não será a redentora para todos os problemas da sociedade. As tecnologias aplicadas e desenvolvidas para a indústria 4.0 vêm para integrar horizontalmente e verticalmente os processos, tornando as decisões igualmente assertivas e assim aprimorando qualidade final dos produtos ou serviços, bem como impactando diretamente no preço final destes. É importante destacar também que no desenvolvimento/aprimoramento de novas tecnologias e serviços, graças à indústria 4.0, outras áreas poderão ser beneficiadas com as soluções encontradas. Por exemplo, na medicina com o uso de sistemas inteligentes de diagnóstico que podem utilizar a inteligência cognitiva para processar e “aprender” informações que forneçam um diagnóstico para o tratamento de doenças mais assertivo e rápido.

No campo do trabalho, algumas funções passaram a não existir mais, particularmente as que envolvem o trabalho mecânico repetitivo e o trabalho manual de precisão. Todavia, outras emergirão no intuito de desenvolver e dar suporte a esses novos conceitos da indústria inteligente e conectada.

Podemos ter esse modelo sem grandes investimentos em pesquisas e ciências?

Não. Diferente das outras revoluções industriais, essa requer, em um primeiro momento, o entendimento do processo industrial ao qual ela será introduzida, para em um segundo momento realizar o diagnóstico do nível de maturidade que a empresa está perante os conceitos da indústria 4.0, e finalmente iniciar o processo de transformação para esse novo modelo.

Como exemplificar uma indústria 4.0? Como ela "é"?

Ainda não existe um modelo, mas ela está fundamentada em nove pilares voltados ao uso eficiente das novas tecnologias emergentes de (1) internet das coisas; (2) interoperabilidade; (3) big data e data analytics (análise de dados); (4) virtualização e cloud computing (computação em nuvem); (5) cyber-security (ciber segurança); (6) manufatura aditiva; (7) realidade aumentada; (8) robótica colaborativa; e (9) simulação e integração de sistemas.

Já podemos identificar essa nova movimentação industrial no Brasil? Onde?

Sim. A indústria automobilística já está bem evoluída com a aplicação desses conceitos. Todavia, outros setores também estão iniciando essa movimentação como a agricultura e as áreas de saúde. 

 

Rosângela Ribeiro Gil
Redação FNE
Imagem da home reprodução do site Pixabay

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